Igreja/Europa: Mais do que «convocar ao conflito», é preciso procurar «paz duradoura» – D. Nuno Brás

Vice-presidente da COMECE destaca necessidade de apoio à Ucrânia, que passa a ter observador permanente no organismo episcopal

Foto: COMECE

Roma, 30 mar 2025 (Ecclesia) – D. Nuno Brás, vice-presidente da COMECE, defendeu que no atual cenário de guerra, na Europa, mais do que “convocar ao conflito”, é preciso procurar uma “paz duradoura”.

“A grande questão não é convocar à guerra, convocar ao conflito. Neste momento, a grande questão é como encontrar caminhos que possam ser de paz duradoura para ambos os lados do conflito”, disse o bispo do Funchal, convidado da entrevista semanal conjunta Ecclesia/Renascença, emitida e publicada aos domingos.

Os delegados das Conferências Episcopais da União Europeia (COMECE) reuniram-se na última semana, na Itália, para refletir sobre a renovação da unidade interna da Europa e no seu empenho em ser um ator global para a paz.

Para o bispo do Funchal, tem faltado vontade de “chegar à paz, à paz justa e duradoura”.

“Muitas vezes, a Europa também não tem feito este caminho, ou pelo menos não tem avançado neste caminho, instalando-se um pouco naquilo que é o dinamismo da guerra simplesmente”, adverte D. Nuno Brás.

O vice-presidente da COMECE comenta as posições da nova administração dos EUA, destacando que as contrapartidas económicas à ajuda que se disponibiliza à Ucrânia “são um dos pontos da equação, mas não podem ser a equação”.

“Queremos a paz, mas uma paz que possa ser aceite pela Ucrânia e que possa minimamente fazer justiça ao povo ucraniano”, sustenta.

O bispo português admite que a resposta da União Europeia “acaba por ser lenta” e fala um momento de crise, relativamente ao seu “papel de interveniente ativo na cena mundial”.

Para D. Nuno Brás, é essencial preservar o projeto comunitário como “uma realidade que garante a paz e o progresso para os seus cidadãos, oferecendo-lhes aquilo que é uma vida minimamente digna, pelo menos para a grande maioria”.

“Creio que este é o grande ADN da Europa e isto não podemos perder”, acrescenta.

O bispo do Funchal adianta que, ao nível da COMECE, a partir desta assembleia plenária o organismo conta com “um observador permanente da Ucrânia”, que pode “facilitar o diálogo” com os vários episcopados.

“Recordo de uma forma muito particular a Polónia e as várias dezenas de milhares de refugiados que a Igreja na Polónia acolheu”, assinala.

O entrevistado deixa elogios ao papel da diplomacia da Santa Sé, “muito ativa na troca de prisioneiros” entre a Ucrânia e a Rússia.

“Que bom seria que as várias diplomacias europeias se unissem, não apenas no sentido das trocas de prisioneiros, mas, sobretudo, na possibilidade de caminhar para uma paz efetiva”, refere D. Nuno Brás.

O bispo do Funchal entende que, apesar das limitações provocadas pela doença, o Papa Francisco “continua a inspirar” posições em favor da paz e é uma figura de referência “para a própria Europa”.

Questionado sobre as recentes eleições legislativas regionais, o responsável assinala que a votação na Madeira foi “no sentido de garantir estabilidade”, desejando que a mesma aconteça.

“Entre o Governo Regional e a Igreja sempre houve muita cooperação, tenho a certeza que continuará a existir”, conclui.

Henrique Cunha (Renascença) e Octávio Carmo (Ecclesia)

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