Igreja: Estruturação hierárquica da Igreja e afirmação da liberdade humana conviveram em Trento

Congresso assinalou 450 anos de história do Concílio

Braga, 08 nov 2013 (Ecclesia) – O historiador José Eduardo Franco afirmou hoje à Agência ECCLESIA que o Concílio de Trento foi “altamente definidor” de uma “Igreja piramidal” e “inovador” ao inaugurar a “afirmação de uma antropologia da liberdade humana”.

“A salvaguarda do livre arbítrio é um aspeto fundamental que permite criar e potenciar uma antropologia otimista, a possibilidade de se acreditar no homem e na sua participação no processo de redenção”, disse José Eduardo Franco no Congresso “Concílio de Trento: restaurar ou inovar” que hoje termina em Braga.

Para o membro da Comissão Organizadora do congresso que assinala os 450 anos do Concílio, Trento fica na história por “garantir teologicamente a afirmação de uma antropologia da liberdade humana diante da vontade divina.

“Enquanto o protestantismo afirmou uma teologia do determinismo, de um certo fatalismo, a teologia católica da justificação afirmou a liberdade humana. Isto é, a salvação é construída num diálogo entre Deus e o homem”, referiu.

José Eduardo Franco referiu também que Trento “criou uma Igreja mais forte, mais institucionalizada, mais organizada”, sendo “altamente estruturador e definidor” ao nível bíblico, sacramental e doutrinal, ao ponto de “coatar o espaço de criatividade”.

“Introduziu uma maior racionalidade na vida da Igreja, reorganizou-a e preparou-a para enfrentar o que chamaria ‘a grande tempestade’ que a modernidade trouxe à Igreja: a tempestade do protestantismo, da abertura ao mundo com os descobrimentos e a planetarização do cristianismo, a mudança política que se estava a verificar na Europa com a afirmação dos estados modernos e o conflito crescente entre o poder temporal e o espiritual”, referiu.

Para o historiador da Universidade de Lisboa, a afirmação de uma Igreja piramidal, que marcou Trento, tem de “ser enquadrado na época”, onde o “valor da hierarquia e da autoridade era estruturante das sociedades do tempo”, ao contrário da atualidade onde se defende a “horizontalização das relações”.

“O Concílio Vaticano II acontece em tempo da democracia e portanto adequou a Igreja àquilo que é uma sociedade que valoriza uma relação horizontal entre as pessoas à luz dos valores da igualdade e da fraternidade”, afirmou.

“A adequação da Igreja ao tempo permite compreender que Trento foi importante e afirmou uma estrutura que funcionou naquela época. Passados quatro séculos, com a evolução e reestruturação da sociedade a partir de outros valores, a Igreja teve a capacidade de se adaptar e assim fez”, referiu José Eduardo Franco.

O congresso ‘Concílio de Trento: restaurar ou inovar’ decorreu em Braga desde quarta-feira para assinalar os 450 anos da sua realização e foi organizado pelo Centro Científico e Cultural de Macau, pela Universidade de Lisboa, Instituto de História e Arte Cristãs da Arquidiocese de Braga e o Instituto São Tomás de Aquino.

PR

Partilhar:
plugins premium WordPress
Scroll to Top