Presidente da Conferência Episcopal Portuguesa sublinha importância de continuar dinâmica sinodal, no próximo pontificado

Octávio Carmo, enviado da Agência ECCLESIA ao Vaticano
Cidade do Vaticano, 27 abr 2025 (Ecclesia) – O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) afirmou que o próximo pontificado deve manter dinâmicas iniciadas pelo Papa Francisco, destacando o processo sinodal 2021-2024, no qual participou, no Vaticano.
“Acho que é evidente que o estilo do ministério do Papa Francisco não pode sair de cima da mesa, certamente não acredito que saia de cima da mesa mental dos cardeais eleitores”, referiu D. José Ornelas, em declarações às agências ECCLESIA e Lusa.
O responsável católico participou, este sábado, na Missa exequial do Papa Francisco, que decorreu na Praça de São Pedro.
Apontando ao futuro imediato da Igreja Católica, que passa pela realização do terceiro conclave do século XXI, em maio, o presidente da CEP destaca que o caminho feito nos últimos anos, “no campo da sinodalidade e outros”, criou “uma nova mentalidade dentro da Igreja”.
Questionado sobre receios de eventuais retrocessos em campos como a relação com pessoas divorciadas ou homossexuais, D. José Ornelas que “há coisas que já não se podem dizer e fazer dentro da Igreja, como voz da autoridade e do magistério”.
“Depois deste caminho feito, eu não acredito que seja possível um retorno a maneiras de ver a Igreja que contradigam o fundamental”, insiste.
Todos somos verdadeiramente irmãos porque temos o único Pai do céu, que todos por isso também temos o dever e o gosto de trabalhar e de agir dentro da Igreja, de lutar juntos por um mundo melhor, em ligação com outros, e criar pontes”.
O bispo de Leiria-Fátima considera que o Papa usou um discurso “compreensível para todos”, no seu magistério.
“É um discurso que faz com que nos sintamos, mais do que lutando uns contra os outros, mais unidos por maneiras comuns de ver”, indica.
O responsável rejeita, por isso, o que denomina de “teoria do conflito”, como forma de enfrentar diferenças e tensões dentro das comunidades católicas.
“O que interessa é aquilo que é que se ganhou nestes anos, em termos de convergência na metodologia de procurar, porque mesmo as pessoas que têm uma visão mais hierárquica das coisas não estariam tão livres para impor um programa desses a esta Igreja que fez este caminho sinodal”, sustenta.
O presidente da CEP evitou fazer projeções sobre a escolha do próximo Conclave, recordando que “a Igreja tem sido surpreendida tantas vezes”.
“Acredito que os cardeais que estão lá são pessoas conscientes da responsabilidade que têm, conscientes e disponíveis para escutar”, acrescentou.
A escolha do próximo Papa, entende D. José Ornelas, é mais do que “propriamente uma questão de impor uma linha”.
“As linhas são muitas, vai ser sobretudo que tipo de linguagem, que tipo de atitudes é que se vão escolher para continuar este caminho da Igreja”, precisa.
Aos católicos, o presidente da CEP pede uma “atitude de oração e de fraternidade, para que seja escolhido o homem que Deus quer”.
A Igreja vive, desde segunda-feira, um período de Sede Vacante, o interregno em que, sob o governo interino dos cardeais, se prepara a eleição de um novo pontífice.
A “vacância da Sé apostólica” é regulada segundo as disposições da Constituição Apostólica ‘Universi Dominici Gregis’, segundo a qual se confiam ao Colégio Cardinalício “o despacho dos assuntos ordinários ou inadiáveis” e a preparação da eleição do novo Papa.
As reuniões são presididas pelo decano [presidente] do Colégio Cardinalício, D. Giovanni Battista Re ou, caso esteja ausente ou impedido, pelo vice-decano, D. Leonardo Sandri.
OC
João Paulo II determinou que desde o momento em que a Sé Apostólica ficar legitimamente vacante [morte ou renúncia do Papa], os cardeais eleitores presentes em Roma devem esperar, durante 15 dias completos, pelos ausentes; decorridos, no máximo, 20 dias desde o início da Sede Vacante, todos os cardeais eleitores presentes são obrigados a proceder à eleição – ou seja, entre 6 e 10 de maio.
Bento XVI abriu a possibilidade deste tempo ser antecipado desde que estejam presentes “todos os cardeais eleitores”. A Igreja conta atualmente com 252 cardeais, 135 dos quais com direito a voto (mais 20 do que 2013), por terem menos de 80 anos no início da Sede Vacante; 71 países cardeais têm eleitores (48 em 2013). Os 10 países com mais eleitores são a Itália (17 cardeais), EUA (10), Brasil (7), França e Espanha (5 cada), Argentina, Canadá, Índia, Polónia e Portugal (4 cada), num total de 64 cardeais (47% do total). O Conclave, palavra com origem no latim ‘cum clavis’ (fechado à chave), pode ser definido como o lugar onde os cardeais se reúnem em clausura para eleição do Papa. Portugal está representado no Colégio cardinalício por D. Manuel Clemente, patriarca emérito de Lisboa; D. António Marto, bispo emérito de Leiria-Fátima; D. José Tolentino Mendonça, prefeito do Dicastério para a Cultura e a Educação; D. Américo Aguiar, bispo de Setúbal, todos criados pelo Papa Francisco e eleitores no próximo Conclave; e por D. Manuel Monteiro de Castro, penitenciário-mor emérito, e D. José Saraiva Martins, prefeito emérito da Congregação para as Causas dos Santos, ambos com mais de 80 anos. Francisco não fez qualquer alteração às normas sobre a eleição do seu sucessor. |