Pela primeira vez em quase 500 anos, um monarca britânico vai rezar com o Papa

Lisboa, 22 out 2025 (Ecclesia) – D. Jorge Pina Cabral, bispo da Igreja Lusitana (Comunhão Anglicana em Portugal), considerou que a visita dos reis de Inglaterra ao Vaticano, que se inicia hoje, “é um grande sinal de unidade e também de convivência ecuménica”.
“É um momento muito significante para a história não só da Igreja de Inglaterra na sua relação com o Vaticano, como também é mais um sinal de unidade entre a Igreja de Inglaterra e também a Igreja Católica Romana”, disse à Agência ECCLESIA.
O Papa Leão XIV vai receber o rei Carlos III e a rainha Camila, de Inglaterra, esta quinta-feira, no primeiro encontro entre o monarca e o atual pontífice, com significado ecuménico e atenção à ecologia.
“Em primeiro lugar, é um evento histórico, porque é a primeira vez que o rei de Inglaterra se encontra com o Papa [Leão XIV] e encontram-se para orar”, assinala D. Jorge Pina Cabral, que acrescenta que esta “não é só uma visita de chefes de Estado”.
“É, por um lado, a visita do Governador Supremo da Igreja Inglesa, que é o rei, por inerência, acompanhado pelo arcebispo de York, que é neste momento o líder da Igreja, ao Papa Leão XIV. Portanto, não é só uma visita de chefes de Estado, mas é também, é uma visita de Estado com implicações religiosas”, precisou.
O bispo da Igreja Lusitana assinala que a visita ao Vaticano acontece num momento “de alguma tensão para a Comunhão Anglicana”, uma vez que “a nomeação de uma mulher para a função de arcebispa de Cantuária criou naturais expectativas e tensões a nível ecuménico, por um lado, como também a nível da própria Comunhão Anglicana”.
“Parece-me que no contexto das reações que houve a essa nomeação, este encontro é um sinal positivo. Portanto, é um sinal que apesar da diversidade existente, é possível as Igrejas continuarem a encontrar-se e a dar sinais de testemunho comum também para o mundo e para a sociedade em geral”, realçou.
O bispo da Igreja Lusitana destaca “as preocupações comuns entre ambas as Igrejas” que a visita vai assinalar, nomeadamente “a questão da defesa da criação, a defesa da liberdade religiosa”, e a “perseguição aos cristãos no mundo”.
Um dos momentos do programa é uma cerimónia ecuménica na Capela Sistina, às 12h10 (menos uma em Lisboa), dedicada ao Cuidado com a Criação, em que, pela primeira vez em quase 500 anos, o Papa e o rei de Inglaterra vão rezar juntos.
“O simbolismo de uma capela, digamos, universal abrir-se à presença, pela primeira vez, do rei de Inglaterra, que é, não nos esqueçamos, o Governador Supremo da Igreja de Inglaterra, tem um simbolismo muito grande”, destacou D. Jorge Pina Cabral.
Durante a tarde, pelas 14h45 (hora local), os reis vão estar na Basílica de São Paulo Fora dos Muros, onde Carlos III vai receber o título de ‘Royal Confrater of Saint Paul’ (Confrade Real de São Paulo).
A presença do rei nessa igreja é também um forte sinal de ecumenismo. Mas, acima de tudo, também é mostrar que apesar dos eventos históricos que marcaram a vida da Igreja de Inglaterra na sua relação com o Vaticano, o que nós percebemos hoje é uma abertura mútua, quer da coroa de Inglaterra, quer do próprio Vaticano, para um aproximar de laços”, referiu o responsável da Igreja Lusitana.
D. Jorge Pina Cabral destaca que o rei Carlos III é “um profundo defensor do diálogo inter-religioso”, lembrando que, quando assumiu o trono, o monarca disse que passaria a ser o defensor das diferentes fés em Inglaterra e não só.
“Estamos perante um homem que, por além de ser naturalmente anglicano, professa a sua fé numa determinada confissão, é uma pessoa com abertura e sensibilidade ecuménica, mas também com uma grande abertura e sensibilidade inter-religiosa”, vincou o entrevistado. Relativamente à visita dos reis de Inglaterra ao Vaticano ter atenção à ecologia integral, o bispo da Igreja Lusitana evoca o facto de Carlos III ter sempre demonstrado, enquanto príncipe de Gales, “um particular cuidado com tudo aquilo que tinha a ver com a proteção da criação”. “Partem dele muitas iniciativas de preservação, de compromisso, não só da Igreja, como também da própria sociedade britânica, na defesa do clima. Portanto, ele tem sido um grande lutador, digamos assim, e tem toda uma sensibilidade para as questões da criação”, disse. Além disso, desenvolve, ocorrendo a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025 (COP30), em novembro, na cidade brasileira de Belém, no Pará, o encontro “é também um sinal muito importante de que as igrejas, neste caso a Comunhão Anglicana e também a Comunhão Católica Romana, estão empenhadas na salvaguarda da criação de Deus”. |
LJ/OC