Acácio Catarino e Nuno Ornelas abordam pensamento económico e social de Francisco
Porto, 04 set 2014 (Ecclesia) – O professor Nuno Ornelas Martins, da Faculdade de Economia e Gestão da Universidade Católica no Porto, considera que as críticas Papa às desigualdades sociais revelam “uma visão lúcida dos problemas” e só “surpreendem” os desatentos.
“O tom crítico com que Francisco trata o problema das desigualdades sociais segue na linha daquele que encontramos nos Evangelhos, especialmente no de São Lucas”, analisa Nuno Ornelas Martins, no artigo ‘O pensamento económico e social do atual Papa’, publicado no Semanário ECCLESIA, numa edição dedicada ao 29.º encontro de Pastoral Social, que hoje se inicia em Fátima.
Quando o discurso de Francisco é “mais incisivo”, como na referência aos trabalhadores que não recebem o salário adequado ao seu trabalho, o Papa está “simplesmente a citar a Carta de São Tiago”, acrescenta.
Para o professor universitário, “o pensamento económico e social do atual Papa” resulta da sua perceção que um capitalismo que “se serve dos seres humanos limita a sua liberdade”.
“Infelizmente, esta descrição fornece uma caracterização mais realista do sistema económico atual”, observa.
Nuno Ornelas Martins relembra ainda que o Cristianismo surgiu num contexto de “enormes desigualdades sociais” e que a “posição cristã face às desigualdades sociais foi clara desde o início”.
Hoje as desigualdades sociais “não são menos importantes” e o docente considera que “não têm sido tratadas adequadamente nem na política económica e social, nem na teoria económica dominante”.
A “teoria económica dominante” foi construída de forma a assumir que “a distribuição do rendimento é determinada automaticamente pelo mercado e que não se deve interferir nessa ação”, desenvolve.
O artigo de opinião assinala que existe uma decisão e ação política permanente, para deixar os mercados financeiros globais “reger a distribuição do rendimento” e “para garantir a reprodução desse sistema de distribuição”.
Para Nuno Ornelas Martins, o Papa compreende esta situação quando explica “como a desigualdade social é a fonte dos problemas sociais” e quando alerta que “é necessário procurar as causas estruturais dessa desigualdade”.
Acácio Catarino, por sua vez, destaca que os números 53 e 59, do exortação apostólica ‘Evangelii Gaudium’ (EG) do Papa, têm sido “bastante difundidas” mas não se destacam as “vias de solução defendidas” por Francisco que são um “diálogo transformador e pacificador”.
Através de vários números da EG, como os 238-239, o especialista sublinha que o diálogo “é sempre indispensável por maiores que sejam as injustiças e as desigualdades” e que é a “melhor” forma de enfrentar o “conflito – social ou outros – consiste em suportá-lo”.
Desta forma, o diálogo torna-se “pacífico e pacificador”, transformador “em profundidade”, uma vez que “exige a procura permanente de sínteses” das posições em confronto, acrescenta Acácio Catarino que vai apresentar o tema ‘Experiência de diálogo Comissão Nacional Justiça e Paz, ACEGE, LOC/MTC’, nas Jornadas da Pastoral Social que vão decorrer em Fátima até quinta-feira.
CB/OC