«Detenhamo-nos nestes batimentos do coração: o nosso, o das nossas mães e das nossas avós, o pulsar do coração da criação e do coração de Deus», pede Francisco, para o «Tempo da Criação»2023
Cidade do Vaticano, 01 set 2023 (Ecclesia) – O Papa alertou para a “guerra sem sentido” contra o ambiente, com particular preocupação para a destruição dos recursos hídricos, na mensagem para a celebração do Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação,
“O consumismo voraz, alimentado por corações egoístas, está a transtornar o ciclo da água do planeta. O uso desenfreado de combustíveis fósseis e a destruição das florestas estão a criar uma subida das temperaturas e a provocar secas graves”, escreve Francisco, na mensagem para o dia que assinala o início do ‘Tempo da Criação’, divulgada pelo Vaticano.
O texto alude às “vítimas da injustiça ambiental e climática” e aponta os “efeitos desta guerra” contra a natureza “em muitos rios que estão a secar”.
O ‘Tempo da Criação’ é a celebração ecuménica anual de oração e ação ecológica, que começa a 1 de setembro, Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação, e termina a 4 de outubro, festa de São Francisco de Assis.
“Neste #TempoDaCriação detenhamo-nos nestes batimentos do coração: o nosso, o das nossas mães e das nossas avós, o pulsar do coração da criação e do coração de Deus”, escreveu a partir da sua mensagem, esta quinta-feira, na conta @Pontifex_pt, na rede social ‘X’ (antigo Twitter).
Na mensagem, o Papa desafia os líderes mundiais, que vão estar presentes na Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2023 (COP28), de 30 de novembro a 12 de dezembro, no Dubai, a “ouvir a ciência e começar uma transição rápida e equitativa, para acabar com a era dos combustíveis fósseis”.
“Não faz sentido permitir a exploração e expansão contínua das infraestruturas para os combustíveis fósseis. Levantemos a voz para travar esta injustiça para com os pobres e os nossos filhos, que sofrerão os impactos piores da mudança climática”, sustenta.
Francisco critica que a água se tenha transformado em “mercadoria sujeita às leis do mercado”, apontando às “terríveis carências hídricas” que afetam a humanidade, das “pequenas comunidades rurais até às grandes cidades”.
“Além disso, indústrias predatórias estão a esgotar e poluir as nossas fontes de água potável com atividades extremas, como o fraturamento hidráulico para a extração de petróleo e gás, os megaprojetos de extração descontrolada e a engorda acelerada de animais”.
‘Que jorrem a justiça e a paz’ é o tema do ‘Tempo da Criação’, em 2023, inspirado no livro bíblico do profeta Amós: ‘Que o direito corra como a água e a justiça como um rio perene’.
O Papa pede uma “justa relação para com Deus, a humanidade e a natureza”, recordando a sua viagem ao Canadá, em 2022, no lago de Alberta, local de peregrinação para muitas gerações de indígenas, “acompanhado pelo rufar dos tambores”.
A mensagem defende uma “conversão ecológica”, que leve a mudanças de estilos de vida e políticas públicas, sugerindo “opções positivas”.
“Fazendo o uso mais moderado possível dos recursos, praticando uma jubilosa sobriedade, separando e reciclando o lixo e recorrendo a produtos e serviços – e há tantos à nossa disposição – que sejam ecológica e socialmente responsáveis”, elenca.
Francisco cita a encíclica ‘Laudato si’ para falar numa “dívida ecológica” com os países em vias de desenvolvimento e crítica “políticas económicas, que favorecem riquezas escandalosas para poucos e condições degradantes para tantos”.
A mensagem destaca que, este ano, o encerramento do Tempo da Criação, na festa de São Francisco a 4 de outubro, coincide com “a abertura do Sínodo sobre a Sinodalidade”.
“Como os rios que são alimentados por mil ribeirinhos e torrentes maiores, o processo sinodal, iniciado em outubro de 2021, convida todos os componentes, a nível pessoal e comunitário, a convergirem num majestoso rio de reflexão e renovação. Todo o Povo de Deus está envolvido num abrangente caminho de diálogo sinodal e conversão”, precisa o Papa.
Francisco publicou a encíclica ‘Laudato si’, sobre o cuidado da Casa Comum, em 2015, e, esta quarta-feira, 30 de agosto, anunciou que quer publicar uma segunda parte deste documento, no dia 4 de outubro, festa de São Francisco de Assis e encerramento do ‘Tempo da Criação’.
O Papa no dia 25 de maio de 2021 lançou uma plataforma de ação, que propõe um percurso de sete anos para que todas as comunidades católicas “se tornem totalmente sustentáveis, no espírito da ecologia integral”; o Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral (Santa Sé) publicou o guia “A nossa casa comum”, com o qual procura “informar, consciencializar e oferecer conselhos práticos sobre o cuidado da criação”.
OC/CB