Igreja e preservativo: a eterna polémica

Começou esta semana na capital dos EUA uma nova campanha de informação pública defendendo o uso do preservativo para prevenir a transmissão de doenças sexualmente transmissíveis. A campanha foi lançada segunda-feira, dia mundial do combate à SIDA, por uma organização independente chamada “Catholics for a Free Choice” (CFFC) e veio à baila precisamente por essa associação invulgar de Católicos e preservativos. O Vaticano não reconhece oficialmente os “Católicos por uma escolha livre” – que o episcopado norte-americano não admite como católicos – e esta campanha vai contra a doutrina católica em relação à moral sexual e reprodutiva. Ainda na segunda-feira o “ministro da saúde do Vaticano”, cardeal Javier Lozano Barragán, assinalou o Dia Mundial de luta contra a SIDA lançando um apelo ao mundo para enfrentar “esta epidemia a partir de uma perspectiva integral, evitando o reducionismo do mal chamado “sexo seguro”. Frances Kisslings, presidente da organização norte-americana afirmou à Reuters que a posição do Vaticano em relação aos preservativos é “irresponsável”. “Os cardeais e os bispos devem promover uma cultura da vida na qual a responsabilidade sexual e a prevenção da SIDA estejam ligados, não uma cultura da morte que resultará em mais comunidades destruídas pela doença”, referiu. A mensagem dos CFFC é dirigida aos católicos sexualmente activos, principalmente aos mais jovens, e diz-lhes que o importante é a responsabilidade e o respeito pelo outro naquilo que se faz, afastando as ideias de imoralidade e insegurança com que as autoridades oficiais da Igreja Católica rotulam os preservativos. A origem recente da polémica está nas declarações do Cardeal López Trujillo, presidente do Conselho Pontifício para a Família, numa entrevista no programa de Televisão da BBC «Panorama» onde disse que os preservativos não são uma garantia absoluta para evitar a transmissão da SIDA e funcionam como “roleta russa”. Aos microfones da Radio Vaticano o responsável da Santa Sé para os assuntos da família explicou que “entre as minhas preocupações estava a intenção de não desorientar as pessoas, especialmente a juventude, ao fazer-lhes crer que há «segurança», quando de facto a segurança ainda não foi provada.” O cardeal sabe que esta posição não é popular. “A Igreja compreende as dificuldades e angústias das pessoas, mas não pode ficar calada: os valores morais da fidelidade mútua dos esposos, assim como a castidade, em si proporcionam uma verdadeira protecção e são conformes ao ser humano e ao sexo responsável, em contraposição ao sexo frívolo”, disse. No nosso país foi o congresso “A linguagem corporal do amor numa visão integral do homem”, que no passado fim-de-semana juntou diversas associações “pró-vida” a criar mais polémica com o Bloco de Esquerda a manifestar-se contra as declarações proferidas por José Pedro Ramos Ascensão, presidente da associação Mais Família, afirmando que a contracepção é “o primeiro momento em que se desvinculam as duas funções – a unitiva e procriativa – do sexo”. Com esta «revolução sexual» verificou-se uma separação daquilo que a natureza mantinha ligado: “sexo, amor, matrimónio e filhos (família)” –frisou à Agência ECCLESIA Ramos Ascensão. Para o Bloco de Esquerda “estas afirmações revestem-se de uma enorme irresponsabilidade”. Tanto o BE como os CFFC sugerem que a posição oficial da Igreja, ao afastar o uso do preservativo, acaba por promover as relações sexuais desprotegidas. Os especialistas católicos vêm neste tipo de raciocínio uma interpretação abusiva e irresponsável da doutrina católica, que procura exactamente o contrário ao sugerir a fidelidade matrimonial e a abstinência. Aliás, a tão propalada diminuição de “católicos praticantes” não se tem repercutido na diminuição de casos de SIDA, como seria de supor com base nas críticas lançadas à hierarquia católica.

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