Diretora do Secretariado Nacional da AIS alerta para crises em Gaza e países africanos, que colocam em risco sobrevivência das comunidades cristãs

Lisboa, 14 set 2025 (Ecclesia) – A diretora do Secretariado Nacional da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS) em Portugal disse “hoje continua a haver mártires, e são muitos”, pedindo atenção da sociedade para as violações à liberdade religiosa.
“É preciso não ficar indiferentes a este sofrimento e lutarmos com as nossas armas, que no nosso caso é simplesmente fazer divulgação, informar, dar a conhecer, para que isto não fique no esquecimento, não fique no anonimato de todo o mundo”, apelou Catarina Martins de Bettencourt, convidada da entrevista semanal conjunta Ecclesia/Renascença.
A entrevista é publicada no dia em o Papa preside a uma celebração ecuménica, em Roma, com responsáveis de várias Igrejas, para evocar mais de 1600 novos mártires de várias confissões cristãs, no âmbito do Jubileu 2025.
“As pessoas ficam surpreendidas, como é que hoje há este martírio, como é que há esta perseguição, que não é compreensível, como é que em pleno século XXI possa haver esta perseguição”, indica a entrevistada.
Ainda hoje, a AIS celebra presença 30 anos de presença em Portugal, reunindo amigos e benfeitores, em Fátima.
Catarina Martins de Bettencourt destaca a generosidade dos portugueses e a relação de confiança que se criou com a fundação pontifícia.
“Saber que efetivamente os nossos apoios chegam à Igreja, chegam a estas pessoas que nos pedem ajuda, isso tem sido muito positivo”, relata.
Desde 2022, a Ucrânia é o país que tem recebido mais apoio da AIS, no contexto da invasão russa, que se traduz em apoios materiais e na recuperação dos traumas.
“Os padres e a Igreja são confrontados com pessoas que estão traumatizadas, que precisam de ajuda a nível psicológico”, indica a diretora do Secretariado português.
Tem sido uma das áreas que nós temos apostado muito e em que estamos a investir, no sentido de dar formação aos sacerdotes, aos religiosos, para poderem ouvir estas pessoas, para poder também ajudar a ultrapassar uma das situações mais graves que temos atualmente na Ucrânia.”
Catarina Martins de Bettencourt recorda ainda os 500 cristãos na Faixa de Gaza, “todos eles estão ali na Paróquia da Sagrada Família com o padre Romanelli e com duas irmãs da comunidade de Madre Teresa de Calcutá”.
“Se nós olharmos para as notícias todas que vamos tendo, será muito difícil a comunidade resistir”, admite, assumindo preocupações com o futuro da presença da comunidade cristã nesta zona.
A responsável da AIS evoca a crise humanitária no Sudão, “um país que é praticamente ignorado”, com mais de 40 mil mortes e mais de 12 milhões de pessoas deslocadas e refugiadas.
“Algumas irmãs com quem temos falado estão com muito receite o que possa ainda aumentar mais este conflito”, assume.
A entrevista aborda a situação em Cabo Delgado, norte de Moçambique, com cerca de 60 mil novos deslocados desde junho e mais de um milhão deslocados desde o início deste conflito, em 2017
“O Papa falou de Moçambique, durante o mês de agosto, exatamente a pedir ao mundo para não esquecer o sofrimento, para não ficar indiferente a este sofrimento desta comunidade moçambicana”, indica Catarina Martins de Bettencourt.
No dia em que Leão XIV completa 70 anos de idade, a diretora do secretariado português da AIS sublinha que é “muito importante ter uma voz como o Papa num mundo que está muito polarizado, uma voz mais serena”.
Henrique Cunha (Renascença) e Octávio Carmo (Agência ECCLESIA)