Aos 49 anos, depois de um percurso laboral e de «alguma inquietação interior», «sempre acompanhado por Deus», seminarista da arquidiocese de Évora vai ser ordenado padre no dia 11 de junho
Lisboa, 07 jun 2023 (Ecclesia) – Rui Faia vai ser ordenado padre no próximo domingo, na Arquidiocese de Évora, e chega ao sacerdócio, aos 49 anos, com “maturidade”, sem “ilusões ou utopias”, mas consciente do sentido da sua vida.
“Chego com o coração apaziguado. Há um caminho que eu percorri, que percorro, porque não termina – os desafios superados até aqui ganham na próxima etapa novos caminhos e dores. Há uma confiança, uma maturidade, não há ilusões ou utopias. Só temos uma vida e é importante no tempo que temos descobrir o seu sentido. É uma pena se chegarmos ao final da vida e olharmos para trás sem ter tido a coragem para fazer diferente”, conta à Agência ECCLESIA.
Rui Faia vai ser ordenado padre juntamente com o seu colega Jorge Palácios, colombiano que fez a sua formação no Seminário Redemptoris Mater, às 17h00, numa celebração na Sé de Évora, presidida por D. Francisco Senra Coelho.
O futuro sacerdote explica que durante muito tempo na sua vida se inquietou sobre a sua vocação e que a falta de resposta o levou a afastar-se da Igreja e da prática sacramental, mas que sempre se sentiu “acompanhado”.
“O tempo não é nosso é de Deus, nunca é tarde. Estamos a assistir hoje a várias realidades que mostram recomeços, não só na Igreja, e eu não os diria tardios. A vocação tardia acontece pela nossa distração e porque Deus não se impõe. Cada vez mais temos de parar, escutar e perceber que a pergunta que nos é colocada. A Igreja deveria atender aos corações irrequietos. Deveríamos olhar para as pessoas mais velhas que se interrogam, e não apenas sobre a vida religiosa. Sinto que há uma procura incessante, sem esquecer que há um caminho longo a fazer e requer paciência”, sublinha.
Rui Faia explica que o seu percurso catequético foi “irrequieto” e que foi aos 23 anos que celebrou o Crisma; com a entrada de um novo sacerdote na sua paróquia aproximou-se da Igreja.
Já a trabalhar na área financeira e com responsabilidades numa empresa, Rui Faia recorda que se sentiu “muito cedo” chamado a ter responsabilidades exigentes.
“Os verdadeiros momentos em que pude escutar Deus, foi quando tinha de ir trabalhar para Lisboa; chegava muito cedo, e enquanto esperava o autocarro, ficava dentro da igreja de Moscavide. Eram 20 minutos em que ali estava, numa experiência de silêncio, e entrava num diálogo mais íntimo. Esses momentos começaram a mexer comigo, percebendo que Deus me questionava”, assinala.
Rui Faia admite que as inquietações em torno das perguntas «O que queres que eu faça?», «Porque não?», «Só agora?» foram conduzindo o caminho, e que o discernimento vocacional após a participação nas Jornadas Mundiais da Juventude, em 1997, em Paris, e também em 2000, em Roma, o levaram a entrar no Seminário.
“Fiz uma experiência vocacional para tentar perceber o meu caminho e acabei por entrar no seminário. Foi uma experiência curta, e eu não percebi, na altura, porquê. Foi uma alegria entrar, sentíamos uma grande camaradagem entre os muitos que entraram. Mas, de repente, comecei a sentir instabilidade. Olhando agora para trás, eu tinha de mudar o chip, porque saia de uma esfera profissional para estudar uma área muito diferente e isso teve um impacto profundo na adaptação, e causou instabilidade”, indica.
Ao sair do Seminário em Lisboa, dá-se um período de afastamento que durou quatro anos.
“Saí e isso causou-me uma revolta interior grande em mim que não consegui perceber. Esta revolta levou-me a um afastamento da Igreja, mesmo dos sacramentos, e surgiu uma rebeldia. Foram quatro anos assim. Hoje vejo que foi necessário um período de alguma escuridão, apesar de sentir que em todos os momentos eu sentia a presença de Deus”, conta.
A conversa com Rui Faia pode ser acompanhada esta noite no programa ECCLESIA na Antena 1, pouco depois da meia-noite, e escutada posteriormente no portal de informação ou no podcast «Alarga a tua tenda».
LS