Edifício de Lisboa é apresentado como «referência no âmbito da arquitectura portuguesa do século XX»
O Conselho de Ministros de 4 de Novembro aprovou o decreto que procede à classificação, como monumento nacional, da igreja do Sagrado Coração de Jesus, em Lisboa.
A igreja, da autoria dos arquitectos Nuno Teotónio Pereira e Nuno Portas, foi inaugurada a 25 de Junho de 1970, é uma das mais centrais da capital portuguesa e serve toda a cidade.
O edifício é apresentado pelo comunicado final do Conselho de Ministros como uma “referência no âmbito da arquitectura portuguesa do século XX, localizada nas proximidades da Avenida da Liberdade”.
Os monumentos nacionais representam “um valor cultural de significado para o país”, que deve ser objecto de “especial protecção e valorização, no quadro da obrigação do Estado de proteger e valorizar o património cultural”.
Prémio Valmor de Arquitectura de 1975, a igreja do Sagrado Coração de Jesus “inova decisivamente no plano da concepção do espaço litúrgico, e que se enquadra numa estética neo-brutalista, manifestada através do recurso a materiais como o betão armado, painéis e blocos pré-fabricados, que nos deu algumas obras de enorme qualidade artística e cultural”, indica ainda a nota do executivo.
O projecto executado distingue claramente o espaço destinado à liturgia dos restantes serviços pastorais, numa síntese entre igreja e centro paroquial que aponta a vários aspectos da vida cristã.
No piso inferior, por baixo da igreja, há um grande salão paroquial, que se desdobra numa zona de acolhimento e outros espaços diferenciados. Em anexo a este grande bloco está um imóvel onde se instalam jardim-de-infância, biblioteca, residência do clero, cripta, cartório, salão paroquial e capela mortuária, em vários níveis, onde é possível encontrar um magnífico azulejo setecentista proveniente do templo que veio substituir.
Esta obra apresenta uma solução inovadora, encaixando o volume e as fachadas do templo com o resto da textura urbana, sem destruir a linha de fachadas que dão fisionomia à própria rua.
Criou-se um espaço aberto, que permite a existência de um átrio, elevado em relação à rua, e que torna presente o carácter singular deste edifício.
O espaço interno, com capacidade para cerca de 3 mil pessoas, das quais mil sentadas, põe de parte o esquema nave-santuário para responder às orientações de espaço único da Liturgia. A limitação espacial é superada, com um desenvolvimento muito natural, criando tribunas e deambulatórios.
O depuramento desornamentado que se consegue nesta obra pode surpreender os mais desprevenidos, dado que não são nem a pintura (única nota de cor com as estações da via-sacra) nem a escultura (apenas duas imagens, uma de Nossa senhora e outra do orago, o Coração de Jesus) os elementos fundamentais na altura de transmitir as mensagens cristãs.
A luz, filtrada por várias aberturas, a escala sobre-humana destacada pelas paredes desnudadas e a naturalidade dos materiais (betão, madeira, mármore) são os elementos que se destacam.
A zona de celebração eleva-se como um “podium” ou estrado, amplo e separado da alta parede de fundo, que ambienta o altar diante de si, o ambão e a sede presidencial, estando ainda o sacrário inserido nesta dinâmica, incrustando-se na mesma parede.