Igreja deve encontrar modos novos de falar da sexualidade, diz Bento XVI

Livro-entrevista revela preocupações do Papa sobre contracepção, SIDA, aborto e casamento

Bento XVI considera que a Igreja tem de exprimir de um “modo novo” a positividade do corpo e da sexualidade, mas alerta que as sondagens não são “o critério do verdadeiro e do justo”.

A posição é assumida no livro «Luz do Mundo – O Papa, a Igreja e os Sinais dos Tempos», que resulta de uma entrevista entre Bento XVI e o jornalista alemão Peter Seewald, apresentado esta Terça-feira no Vaticano.

Sobre a chamada moral sexual, o Papa reafirma o carácter “profético” da encíclica «Humanae Vitae», de Paulo VI, sobre a regulação da natalidade (1968).

Apesar de reconhecer que as perspectivas deste documento “continuam válidas”, Bento XVI não esconde a dificuldade de “encontrar estradas humanamente percorríveis”, admitindo que neste campo “muitas coisas devem ser repensadas e expressas de um modo novo”.

Sobre a discutida questão do uso do preservativo, o Papa sublinha que “onde quer que alguém queira obter preservativos, eles existem. Só que isso, por si só, não resolve o assunto. Tem de se fazer mais”.

Num excerto da obra, Bento XVI afirma que pode haver casos pontuais, “justificados”, em que admite o caso do preservativo.

O Vaticano veio já a público desmentir algumas “interpretações” dadas a estas palavras e, em comunicado do seu porta-voz, padre Federico Lombardi, sublinha que “o Papa não justifica moralmente o exercício desordenado da sexualidade, mas defende que o uso do preservativo para diminuir o perigo de contágio é «um primeiro acto de responsabilidade», «um primeiro passo na estrada para uma sexualidade mais humana», mais do que o não fazer uso do mesmo expondo o outro a um risco de vida”.

O preservativo, diz Bento XVI, “não é a forma apropriada para controlar o mal causado pela infecção por HIV. Essa tem, realmente, de residir na humanização da sexualidade”.

A Igreja não considera, por isso, o preservativo como “uma solução verdadeira e moral”.

Sobre o aborto, o Papa destaca que “a sociedade se derruba, a si própria, das suas grandes esperanças” ao tirar a vida a crianças, que são “pessoas humanas” e que poderiam “ter-se tornado génios” e dar ao mundo “coisas novas”.

Bento XVI fala ainda dos católicos divorciados que se voltaram a casar, “um problema muito difícil” que deve ainda ser “aprofundado”.

Para o Papa é preciso “analisar mais a fundo a questão da validade dos matrimónios”, estar próximo destas pessoas e convidá-las a permanecer na Igreja.

O livro “Luz do mundo. O Papa, a Igreja e os sinais dos tempos” resulta de uma conversa entre Bento XVI e Seewald – que já por duas vezes tinha entrevistado Joseph Ratzinger, ainda cardeal – na residência pontifícia de Castel Gandolfo, perto de Roma, entre os dias 26 e 31 de Julho deste ano.

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