Igreja/Desporto: «Ser guarda-redes foi uma grande escola de vida» – Papa Francisco

Entrevista ao jornal italiano «La Gazzetta dello Sport»

Foto: La Gazzetta dello Sport

Lisboa, 02 jan 2021 (Ecclesia) – O Papa concedeu uma entrevista ao jornal italiano ‘La Gazzetta dello Sport’ em que fala da sua ligação com o desporto e o futebol, em particular, considerando que aprendeu muito com a experiência de ser guarda-redes.

“Quando criança, eu gostava de futebol, mas não era dos melhores, pelo contrário, era o que na Argentina chamam de “pata dura”, literalmente perna dura. É por isso que sempre me puseram a jogar na baliza, mas ser guarda-redes foi uma grande escola de vida para mim. O guarda-redes tem de estar pronto para responder aos perigos que podem chegam de qualquer lado”, indicou, numa conversa publicada hoje, num livro intitulado ‘O desporto segundo o Papa Francisco’.

O jornal italiano destaca que o atual Papa, “sempre próximo dos atletas e das questões desportivas”, respondeu a 31 questões, sobre “lealdade, compromisso, sacrifício, inclusão, espírito de equipa, ascetismo e redenção” que resumem os seus pensamentos sobre “a importância e o valor do desporto.

A entrevista foi feita no início de dezembro de 2020, durante um encontro na residência de Francisco, na Casa Santa Marta, no Vaticano, onde o Papa recebeu Stefano Barigelli, diretor de ‘La Gazzetta dello Sport’; Pier Bergonzi, vice-diretor e autor do entrevista com o padre Marco Pozza, sacerdote maratonista que também fez do desporto a sua missão.

Francisco começa por recordar as idas em família ao estádio, para ver os jogos do San Lorenzo, em Buenos Aires.

Santo Padre, o senhor disse que quando criança ia ao estádio com os pais para assistir aos jogos de futebol.

“Lembro-me, em particular, do campeonato de 1946, aquele que o meu San Lorenzo ganhou. Lembro-me desses dias passados a ver os jogadores e a nossa felicidade de crianças, quando regressávamos a casa: a alegria, a felicidade no rosto, a adrenalina no sangue”, relata.

Tenho outra lembrança, a da bola de trapos, a ‘pelota de trapo’: a de couro custava caro e nós éramos pobres, a borracha ainda não era tão comum, mas bastava uma bola de trapos para a nos divertirmos e quase fazer milagres, jogando na praceta perto de casa”.

O Papa evoca a história de Gino Bartali, “o lendário ciclista que, recrutado pelo cardeal Elia Dalla Costa, com a desculpa de ir treinar, deixou Florença para Assis e voltou com dezenas de documentos falsos escondidos no quadro da bicicleta” e assim salvou vários judeus, durante a II Guerra Mundial.

“Pedalou centenas de quilómetros todos os dias sabendo que, se o parassem, seria o seu fim. Com isso, ofereceu uma nova vida a famílias inteiras perseguidas pelos nazistas escondendo alguns deles até em sua casa”, refere, elogiando “um desportista que deixou o mundo um pouco melhor do que o encontrou”.

Francisco fala também de Maradona, falecido em 2020: “Em campo foi um poeta, um grande campeão que deu alegria a milhões de pessoas, tanto na Argentina como em Nápoles; era também um homem muito frágil”.

O Papa critica o “doping”, considera que esta prática “anula a dignidade” do atleta e elogia a “força de vontade” dos campeões.

“É melhor uma derrota limpa do que uma vitória suja. É a maneira mais linda de arriscar a vida, de cabeça erguida. Que Deus nos dê dias santos. Reze por mim, por favor: para que eu não pare de treinar com Deus”, conclui.

OC

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Agência ECCLESIA

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