Igreja/Desporto: «Competitividade e necessidade de sucesso substituíram os valores», diz padre e triatleta

14ª Jornada Nacional da Pastoral da Cultural reuniu padre Ismael Teixeira, Ribeiro Cristóvão, Jorge Gabriel, Beatriz Gomes e Gonçalo M. Tavares

Lisboa, 02 jun 2018 (Ecclesia) – O padre e triatleta Ismael Teixeira disse hoje em Fátima, na Jornada Nacional da Pastoral da Cultura, que o mundo do desporto precisa de recuperar valores fundamentais, que a Igreja Católica acompanha e promove.

“A competitividade e necessidade de sucesso substituíram os valores”, lamentou o sacerdote, no primeiro painel do evento promovido pelo Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura (SNPC).

O sacerdote do Patriarcado de Lisboa, praticante de triatlo de longa distância e conhecido como “ironpriest”, o padre de ferro, falou do desporto como um “lugar de intervenção na formação do indivíduo” e, do ponto de vista católico, um “lugar de pastoral”.

“A Igreja não pode passar ao lado disso”, defendeu.

A 14ª Jornada anual do SNPC tem este ano o tema ‘Desporto. Virtudes e Riscos’.

O padre Ismael Teixeira convidou a ver na prática desportiva “um lugar” onde a Igreja Católica pode anunciar os valores que viver.

“O desporto é claramente uma escola de valores”, como a lealdade, a solidariedade e o respeito, acrescentou.

O padre que “corre com uma mensagem pela paz” vai estar a 24 de junho na cidade francesa de Nice, local marcado por um atentado terrorista.

O painel contou com a intervenção do jornalista Jorge Gabriel, que falou do seu amor pelo desporto e a sua experiência como treinador de futebol, considera que existem “dois mundos paralelos” em Portugal, o desporto e o futebol.

Para o convidado, é fundamental promover uma atitude de “respeito, compromisso, valores, ética”, lamentando o “negócio monumental” em que se transformou o futebol, que alimenta a “sede de lucro” de jornais, televisões ou rádios, ignorando modalidades que “não vendem”.

Ribeiro Cristóvão, jornalista e comentador desportivo, disse por sua vez que hoje em dia o desporto é visto como um “problema”, com a situação “quase a raiar o degradante”.

O especialista considera que existe “falta de ética” e de preparação nas pessoas que entram para a causa desportiva, centrados em “ganhar a qualquer preço, sem olhar a meios”.

Beatriz Gomes, canoísta, falou mais tarde sobre o investimento feito no treino, momento em que o desporto oferece “o prazer do esforço”.

Mais do que a competição, a antiga atleta olímpica valorizou a “capacidade de ir mais além”, pelo trabalho desenvolvido, que se sobrepõe ao próprio “talento”.

“O desporto, a cultura, a educação são aliados”, acrescentou.

Para Beatriz Gomes, um dos riscos atuais do desporto está relacionado com o “individualismo”.

O escritor português Gonçalo M. Tavares, que proferiu a última conferência, sublinhou a distinção entre “carne” e “corpo” na filosofia contemporânea, considerando-a é “determinante” na diferença entre “humanizar e desumanizar”.

“O corpo é a carne e as suas ligações, a carne e os seus afetos”, precisou.

O professor universitário falou da relação de “admiração” com os crentes e do seu trabalho, centrado na intenção de “entender o mistério”.

“No limite, o corpo é dispensável, o que é trágico, mas também é bonito”, concluiu.

O encontro, aberto a crentes e não crentes, abordou o significado antropológico e as atuais conexões socioculturais do Desporto.

O tema foi escolhido na sequência das múltiplas intervenções do Papa Francisco e dos seus antecessores sobre o Desporto, área que suscitou a criação de um departamento exclusivo por parte do Conselho Pontifício da Cultura.

A jornada nacional do SNPC é o momento escolhido pela Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais para a entrega o ‘Prémio Árvore da Vida-Padre Manuel Antunes’ que este ano distingue o ator Ruy de Carvalho.

OC

Notícia atualizada às 16h45

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Agência ECCLESIA

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