«O meu filho é mais digno de comungar porque quando faz uma maldade não tem consciência», diz Dália Lopes
Lisboa, 01 jul 2018 (Ecclesia) – Dália Lopes, mãe de João, atualmente com 25 anos e um diagnóstico de autismo, afirma à Agência ECCLESIA a luta que travou para dar ao seu filho uma formação cristã.
Dália recebeu aos quatro anos o diagnóstico, confrontada com os atrasos no desenvolvimento do seu terceiro filho.
“Na altura desconhecia por completo. Depois de o João nascer comecei a aprender o que era o autismo, aprendi a viver o dia-a-dia, com os outros”, recorda, falando do processo de aprendizagem e apaziguamento pelo qual passou.
“Será que sou assim tão má para Deus me castigar? Eu sou má, mas no fundo quem sofre é o meu filho e ele é inocente, não fez mal nenhum a ninguém, simplesmente nasceu”.
Reconhecendo-se como “mulher de pouca fé”, procurou dar ao João uma formação cristã e quando o seu filho, “que só começou a falar aos oito anos”, se começou a “comportar melhor na escola, com os colegas”, procurar inscrevê-lo na catequese-.
A primeira resposta que recebeu, quando o João tinha oito ou nove anos, foi “para o ano”.
Quando após, a frequência da catequese e preparação para a primeira comunhão, não deram a certeza a Dália Lopes que o seu filho iria receber o sacramento, esta mãe decidiu falar com o sacerdote e confrontou-o.
“ «O João sabe que toma o Jesus para ficar bonzinho de coração». O padre estava reticente, e eu compreendia os medos, mas acrescentei: «Senhor padre, o meu filho é mais digno de tomar Jesus que o senhor ou eu, porque o meu filho quando faz uma maldade não sabe que a está a fazer e o senhor padre sabe e continua a fazer» ”.
O João fez a primeira comunhão e “estava lindo e contente, foi uma vitória”, recorda emocionada.
Hoje o João é muito bem recebido na paróquia onde todos o conhecem mas foi no Movimento Fé e Luz, de integração na Igreja e na sociedade de pessoas com deficiência e seus familiares, que encontrou maior acolhimento.
“Ele fazia birras muito grandes quando o encontro do movimento Fé e Luz chegava ao fim e tínhamos de regressar a casa. Com os meus botões, dizia que não regressava mais aos encontros, porque havia sempre birras, mas depois lembrava-se da sua alegria, a bater palmas, e a cantar os cânticos”, refere.
Dália nunca mais deixou o movimento e, na Cova da Piedade, paróquia da diocese de Setúbal, foi desafiada pelo pároco José Pinheiro a iniciar localmente as suas atividades.
Esta é uma resposta pastoral onde esta mãe encontra “todo o apoio”.
“No dia do funeral do meu marido, eu tinha uma consulta de psiquiatria do João no mesmo horário e uma amiga do movimento acompanhou o meu filho para que eu pudesse despedir-me do meu marido”, conta emocionada.
Consciente que é o desconhecido que conduz a falta de acolhimento a pessoas com deficiência, Dália dá conta de que é o filho que melhor a ensina a relacionar-se com Deus.
“O meu filho faz uma coisa que nenhum de nós faz: quando passa o saquinho no ofertório da missa, ele mete a mão no bolso e dá tudo o que tem, tal como Jesus pediu, quando normalmente as pessoas dão umas moedinhas”.
Dália lamenta o facto de “não há muitos anos estes meninos eram escondidos”: “Hoje já se vai saindo de casa com estas crianças”.
Hoje, afirma, já não tem medo do futuro do seu filho, nem pensa mais que Deus a castigou.
“Deus não me castigou, Deus deu-me o maior presente de todos, porque deste meu filho eu recebo beijos que não recebo de mais ninguém. Eles amam mesmo”.
O testemunho de Dália Lopes foi emitido este domingo no programa Ecclesia, na Antena 1, com exemplos de práticas pastorais de acolhimento a pessoas com deficiência.
LS