Irmã Verónica Donatello vai passar por várias dioceses portuguesas para apresentar trabalho de inclusão e valorização de todos nas paróquias católicas
Lisboa, 25 mai 2018 (Ecclesia) – A responsável pela catequese para pessoas com deficiência em Itália, irmã Verónica Donatello, disse hoje à Agência ECCLESIA que a Igreja Católica tem de superar um “preconceito comunitário” neste campo para conseguir incluir todos.
“É preciso trabalhar sobre a comunidade, não olhar apenas para o limite, o ‘cego’, o ‘surdo’. Não: é o Marco, o Francisco, a Isabel. São pessoas e, pelo Batismo, são irmãos”, defende.
A religiosa é filha de um casal de surdos e tem uma irmã com deficiência intelectual, tendo desde cedo aprendido o “desafio de comunicar de várias maneiras”.
A irmã Verónica Donatello diz que é necessário superar uma visão dos “coitadinhos” e criar uma cultura eclesial “que inclua todos”, sem comunidades “de segunda classe”.
“Deus faz história com pessoas que nós teríamos descartado”, sublinha.
Para esta especialista, uma das necessidades que se sente no terreno é a de superar o “medo” nas comunidades perante as pessoas com deficiência e suas famílias, que “comunicam com outras linguagens, que têm comportamentos atípicos”.
“Tenho de dizer que são pouquíssimas as pessoas que recusam, são mais os que nos perguntam como fazer”, constata.
A religiosa questiona ainda a tendência de “medir a fé” apenas de um ponto de vista racional, porque “não basta compreender, a fé é um encontro, uma experiência”.
No campo da Catequese, a irmã Verónica Donatello vê a presença das pessoas com deficiência como uma “alavanca” para a mudança”, uma “provocação”, ajudando a valorizar dimensões ligadas aos vários sentidos e evitando uma excessiva “cognitivização”.
A responsável italiana elogia o trabalho desenvolvido por paróquias que “sujaram as mãos” e procuraram trabalhar a partir do terreno, dando como exemplo um “Evangelho tátil” feito por crianças de 6, 7 anos para uma colega cega.
“Não é preciso ser especialista, é preciso ter a coragem de despertar os sentidos, o corpo, e trabalhar com a comunidade”, sustenta.
O “processo” de inclusão tem passado pela criação de instrumentos ligados à “legibilidade” da paróquia e das celebrações, com símbolos próprios para autistas, a aposta na língua gestual ou a produção de materiais em braille, por exemplo.
“A paróquia, nesta pluralidade de linguagens, descobre a beleza da Liturgia, que envolve todos os sentidos”, realça a irmã Verónica Donatello.
A religiosa está em Portugal a convite do Serviço Pastoral a Pessoas com Deficiência, da Igreja Católica, e sublinha que não existe uma “varinha mágica” para a inclusão eclesial, mas um trabalho a partir da realidade concreta em cada contexto.
“A comunidade torna-se mais rica”, observa.
A irmã Verónica Donatello destaca a importância do “trabalho em equipa”, sem compartimentar a catequese ou a vida escolar, fazendo pequenos gestos como “baixar uma mesa de matraquilhos” para que as crianças em cadeira de rodas possam jogar.
“A pessoa com fragilidade, com deficiência, obriga-nos a reconhecer que existe um limite, mas não é uma exceção negativa, é a possibilidade de todos habitarem a história”.
A Conferência Episcopal da Itália tem desenvolvido instrumentos ligados às novas tecnologias, uma “bênção” para a responsável pela catequese para pessoas com deficiência, permitindo a “participação ativa” de todos.
“Na Itália, falamos de ‘Pastoral 3.0’, que devolve uma visão comunitária. Muitas vezes pensamos num isolamento, mas é preciso educar, não dar apenas o instrumento e manter a relação”, observa a irmã Verónica Donatello.
A religiosa italiana vai estar hoje em Faro; para sábado, às 15h00, está programada uma “sessão interdiocesana” em Lisboa, no auditório do Lar S. Catarina Labouré, no Campo Grande.
No domingo, a responsável italiana segue para Braga, para um encontro com a pastoral dos surdos, seguindo para a Diocese de Bragança-Miranda, onde vai estar no dia 28; e em Coimbra, na próxima terça-feira.
OC