Manuela Silva, secretária do movimento internacional Fraternidade Cristã dos Doentes Crónicos e Deficientes Físicos
Lisboa, 15 jun 2017 (Ecclesia) – Manuela Silva, secretária do movimento internacional ‘Fraternidade Cristã dos Doentes Crónicos e Deficientes Físicos’, defende que a Igreja Católica tem de ouvir estas pessoas, para que possam “pôr a render os seus talentos”.
“É possível fazer uma grande evangelização estando numa cama, deitadas”, porque às vezes basta um sorriso, refere à Agência ECCLESIA.
A responsável, que é cega, considera que a Igreja tem de entender que as pessoas com deficiência “não são meros rezadores”, mas “podem ouvir os outros, pessoas que estão mais em baixo, pelo telefone”, por exemplo.
“Temos a experiência de pessoas fechadas em casa, que não conseguem sair para lado nenhum, mas pelo telefone conseguem dar muita força uns aos outros”, precisa.
A secretária do movimento internacional antecipa a peregrinação jubilar ‘Caminhar Na Luz e Na Alegria – Ser Igreja Para Todos’, que vai levar pessoas com deficiência, famílias e instituições, entre 16 e 18 de junho, a Fátima.
Para Manuel Silva, esta peregrinação, no Centenário das Aparições, é uma ocasião para “dar mais força”: “As pessoas com deficiência vão muito a Fátima, até porque há a bênção dos doentes, só que esta peregrinação tem outra perspetiva. Aqui trata-se de as pessoas com deficiência serem protagonistas da sua própria vida”.
“Toda a gente vai participar naquilo que pode participar, com as suas limitações”, adiantou.
Na área de deficientes físicos e sensoriais, todos são “evangelizadores como qualquer outro membro da Igreja”.
A Fraternidade Cristã dos Doentes Crónicos e Deficientes Físicos trabalha “há muitos anos” nesta pastoral, neste setor da evangelização.
“Nós, pessoas com deficiência, que somos os mentores do movimento, os seus protagonistas, temos trabalhado junto das paróquias para que haja inserção de todos”, explica a responsável internacional.
Manuela Silva recorda a experiência “enriquecedora” de ter trabalhado em Massamá, no Patriarcado de Lisboa, e várias outras paróquias: “As pessoas com deficiência, muitas vezes, enquanto não descobrem o seu verdadeiro papel na Igreja, também gostam de ser assistidas. Quando há um movimento que dá um bocadinho mais de trabalho, é mais difícil, como toda a gente”.
Segundo a responsável, alguns párocos têm mostrado abertura para que se proclamem leituras em braille e inserir as pessoas na vida paroquial, mas há algumas dificuldades levantadas por leigos e organismos das comunidades, sobretudo perante “uma pessoa que apareça de cadeira de rodas ou com alguma limitação”.
“Reconhecemos, e isto é uma coisa que nos faz sofrer um bocadinho, que a Igreja não é muito aberta, principalmente os deficientes motores partilham muito comigo: ‘parece que tiram fotografias com os olhos’”, observa Manuela Silva, natural da Trofa.
A criação de acessibilidades ou casas-de-banho adaptadas são desafios que se superam, paulatinamente.
“São coisas pequeninas, mas que têm vindo a dar resultado”, assume.
A responsável pede “muita paciência” por parte das pessoas com deficiência e persistência na sua participação na vida das comunidades católicas.
“Não deixem de estar presentes, façam, vão às paróquias, tentem participar, ponham as vossas dificuldades, porque se não aparecerem, ninguém vos dá oportunidade”, conclui.
HM/OC