Igreja da Lapa celebra 10 anos do Grande Órgão de tubos O Grande Órgão de tubos da Igreja da Lapa, o mais completo órgão moderno existente em Portugal, construído segundo o modelo do órgão romântico pelo organeiro alemão Georg Jaan (também construtor do Órgão de tubos da Sé do Porto), que se instalou em Portugal, foi solenemente inaugurado em 7 de Julho de 1995. Completa, pois, neste ano, 10 anos ao serviço da liturgia e da cultura musical naquela igreja da cidade do Porto. A Reitoria da Lapa acaba de anunciar um conjunto de 7 concertos, de órgão, e corais e instrumentais, para celebração do acontecimento. O ciclo iniciou-se no dia 30 de Junho, com um notável e pouco vulgar concerto para órgão a 4 mãos, pelos organistas franceses Marie-Ange Laurent e Eric Lebrun, que, embora com carreiras independentes, constituíram um duo muito apreciado detentor de um vasto repertório, assente em transcrições, adaptações e obras encomendadas a compositores, especificamente para órgão a quatro mãos. Efectuaram também gravações em vários países para discos, rádio e televisão. O concerto que apresentaram na Lapa continha adaptações de obras de autores consagrados (Mozart, Haendel, Schubert, Hesse e Albrechtsberger) e uma obra do Reitor da Igreja, P. Ferreira dos Santos, expressamente escrita para órgão a quatro mãos: um conjunto de variações e fuga sobre o tema gregoriano Ave maris stella, que mereceu forte aplauso do público. O facto de o concerto ter sido projectado em dois ecrãs permitiu ao ouvinte observar a complexa movimentação das mãos e pés dos organistas, enquanto surgiam do próprio órgão tanto as sonoridades suaves, como os acordes de grande potência sonora que o instrumento permite. O resultado entusiasmou o auditório, a quem os organistas contemplaram com três peças extra-programa, repetindo a parte final do Ave maris stella. O ciclo continuou com um segundo concerto em 2 de Julho, sábado (música para órgão construída a partir de temas do canto gregoriano, de vários autores também consagrados – Duruflé, Reger, Dupré e outros) pelo organista Dominikus Trautner, monge beneditino que se dedica ao canto gregoriano e à actividade organística nas cidades de Wüsburg e Frankfurt, na Alemanha. No dia 3 de Julho, domingo, o concerto reuniu 5 organistas portugueses formados nas Escolas do Porto (Universidade Católica e Escola Diocesana de Ministérios laicais – Filipe Veríssimo, Tiago Ferreira, Paulo Silva e Vasco Soeiro) e na Universidade de Aveiro (Marta Querós), que interpretaram obras de Bach, Frank, Vidor e Boëllmann. Concerto comemorativo O Concerto comemorativo dos 10 anos do Grande órgão de tubos, terá lugar amanhã, quinta-feira, dia 7 de Julho – o dia da inauguração, 21h30), pelo organista alemão Harald Feller. Aluno dos notabilíssimos organistas Franz Lehrndorfer e Marie-Claire Alain, é professor e organista em Munique e Regensburg e detentor do grande prémio internacional do disco Liszt. Obras de Bach, Reger e do próprio organista. O ciclo continua no dia 9 de Julho, sábado, 21h30, com um Concerto de Coro e Orquestra com duas grandes obras: a Missa a 4 em sol maior de Carlos Seixas (1704-1742) e o aquiconhecido e belíssimo Magnificat, de J. S. Bach. Ambas as obras para solistas, coro (Portogalante vocal Ensemble) e orquestra (Sine nomine), sob a direcção de Filipe Veríssimo. Ambas as formações musicais tiveram origem e estão ligadas à Igreja da Lapa. No domingo, 10 de Julho, 12h, celebra-se a Missa de Acção de Graças, com o canto da Missa brevis em Ré maior, de Mozart, com o Coro polifónico da Lapa, solistas e Orquestra Sine nomine, sob a direcção de Filipe Veríssimo. Concluem-se as comemorações em 14 de Julho, quinta-feira, com um novo concerto de órgão, por Filipe Veríssimo, com obras de Bach, Brahms, Duruflé e de Ferreira dos Santos (Filesa, tríptico para órgão – fantasia, adágio e fuga, em primeira audição mundial). Recordando: liturgia e concertos No programa dos concertos o reitor da Lapa, Cónego António Ferreira dos Santos, escreveu umas palavras que recordam o percurso realizado até agora: Em 7 de Julho de 1995, em ambiente de grande solenidade e festa, eram ouvidos, com a amior alegria e emoção, pelas mãos do insigne Mestre Professor Franz Lehrndorfer, os primeiros acordes do grande órgão de tubos da Igreja da Lapa. O mestre Organeiro Georg Jann apresentava a sua obra-prima. A Venerável Irmandadade Nossa Senhora da Lapa, a Comissão do Órgão da Lapa, a Comunidade da Igreja da lapa, instituições públicas e privadas constituíram-se em grandioso Coro, a uma só voz, para ultrapassarem todos os escolhos que pudessem impedir a chegada de tão nobre tesouro. E ele veio para ficar. A beleza da sua fachada e a transcendência das suas sonoridades têm impressionado e atraído milhares de pessoas, portugueses e estrangeiros, e a força da sua mensagem desafia os mais exigentes promotores de acções culturais. Um novo livro se abriu para a Comunidade da Lapa, para a cidade do Porto, para Portugal e para o Mundo! As nove celebrações Eucarísticas dominicais têm, sempre, como companheiro activo, o Grande Órgão de tubos da Igreja da Lapa. Nele foram realizados até hoje 101 concertos, com 57 organistas, portugueses e estrangeiros, nos quais foram apresentadas 475 obras para órgão de 138 compositores. Celebremos, por isso, o Grande Órgão de Tubos da Igreja da Lapa, no décimo aniversário da sua inauguração, com uma frescura que jamais murchará, proque um verdadeiro tesouro nos caiu do Céu. Desde que, em 1985, se inaugurou o Órgão de tubos da Catedral do Porto, da autoria do mesmo Georg Jann, nesta cidade e arredores recuperaram-se ou construíram-se muitos órgãos de tubos, restaurando-se a valorização deste instrumento tradicional, o mais completo de quantos se fabricaram ao serviço da arte musical. Por isso lhe chamam o “Rei dos instrumentos” musicais. Construíram-se órgão novos na Igreja da Senhora da Conceição, na Igreja de Cedofeita, na de Santa Rita em Ermesinde, e recentemente na da Senhora da Boavista. Entretanto muitos outros órgãos históricos se restauraram: Igreja do Seminário Maior, de S. Bento da Vitória, da Moreira da Maia (um instrumento precioso do alemão Schnitger, como há poucos no mundo), de Mafamude, Avintes e Grijó em Gaia, da Trindade, dos Congregados, de Matosinhos, de Caramos, em Felgueiras, e outros haverá que vão sobrevivendo à espera de restauro que lhes restitua os méritos antigos. Nisso têm colaborado as comunidades, as autoridades públicas e mecenas privados. É uma tarefa que urge continuar. Por exemplo, o órgão da Igreja de S. João Novo, da Igreja de Campanhã, da Igreja do Clérigos e o grande órgão do Mosteiro de Arouca aguarda um novo restauro que lhe restitua o fulgor antigo. Um dia o terá certamente.