Igreja: D. Rui Valério condena «escândalo» das perseguições religiosas em pleno século XXI

Patriarca de Lisboa acompanhou apresentação de relatório global, lançado pela Fundação AIS

Foto: ACN – Ajuda à Igreja que Sofre

Lisboa, 21 out 2025 (ECCLESIA) – O patriarca de Lisboa afirmou hoje que as perseguições religiosas continuam a representar “um escândalo” no século XXI, considerando que negar a liberdade de fé é atentar contra a dignidade humana.

“O escândalo é tanto maior quando nós tomamos consciência de que estamos em pleno século XXI e que a história da perseguição religiosa, do impedimento do outro viver na plena liberdade (…) é qualquer coisa que destrói o próprio ser humano”, declarou aos jornalistas D. Rui Valério, à margem da apresentação do Relatório sobre a Liberdade Religiosa no Mundo, da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS), no Centro Nacional de Cultura, em Lisboa.

O responsável católico sublinhou que impedir alguém de viver a sua fé é “roubar ao ser humano a possibilidade de ele, na autenticidade, se expressar, se abrir, de viver a sua liberdade”.

“Nunca ninguém é tão autenticamente de si próprio como quando se coloca na presença de Deus”, afirmou, acrescentando que negar essa dimensão espiritual “é impedir alguém de encontrar um alimento para saciar a fome do coração”.

O patriarca observou que “o problema da intolerância associada à religião não é um facto contemporâneo, não é um facto novo”, recordando que “os grandes passos civilizacionais” surgiram para “reparar esse ponto de intolerância”, nomeadamente “no reconhecimento da dignidade do ser humano e dos direitos que assistem a toda a pessoa”.

“É sempre com preocupação que nós acompanhamos e assistimos ao surgir de fenómenos de intolerância, de incompreensão, de perseguição”, lamentou.

“É uma contradição que isso aconteça numa sociedade que se desenvolveu à luz do Evangelho, que é uma cultura da compreensão, da relação, do perdão e da compaixão”, prosseguiu D. Rui Valério.

O patriarca de Lisboa indicou que “a Igreja estará sempre atenta para promover e desenvolver uma mensagem em ordem ao acolhimento, à compreensão e à ajuda”, bem como “proporcionar aos crentes de minorias religiosas a possibilidade, seja física, seja logística, de viverem a sua fé”.

Questionado sobre a petição internacional lançada pela hoje Fundação AIS – ‘A liberdade religiosa é um direito, não um privilégio’ -, apelando aos governos e às organizações internacionais que assegurem a proteção efetiva da liberdade de pensamento, consciência e religião, D. Rui Valério destacou o “duplo significado” da iniciativa.

“Em primeiro lugar é para nos tirar da nossa indiferença, porque nos obriga a fazer uma assinatura, porque colocamos ali o nosso nome, porque damos a cara”, explicou.

Em segundo lugar, acrescentou, trata-se de uma forma de estar “ainda mais comprometidos com a defesa e salvaguarda do outro enquanto outro, do outro enquanto uma liberdade”.

“Ninguém pode ser indiferente a este drama”, insistiu, advertindo que “nada pior para a proliferação do mal do que tapar a cara, fechar os olhos”.

Sobre as recentes iniciativas legislativas em Portugal, nomeadamente a nova lei dos Estrangeiros e o recentemente aprovado Projeto de Lei nº 47/XVI/1.ª (CH), que “proíbe a ocultação do rosto em espaços públicos”, que tem sido ligado à proibição da burca, o patriarca de Lisboa apelou à prudência, sem uma posição “definitiva”.

“Apenas constato que estão a ser dados passos, estão a ser tomadas medidas, estão a ser feitas opções”, referiu, considerando que “é um bom sinal, o sinal de uma sociedade que está motivada”.

Defendendo uma “abertura” ao diálogo e à convivência, D. Rui Valério notou que “no atual contexto mundial, a razão evocada” para a proibição da burca é colocada “em termos de segurança” e não no plano religioso.

OC

Igreja/Portugal: «Matança em nome da religião e contra a religião continua em várias partes do mundo» – Nuno Rogeiro

 

Partilhar:
Scroll to Top