Diretor do Secretariado Nacional das Comunicações Sociais recorda ação renovadora e de diálogo do falecido arcebispo
Lisboa, 20 mai 2014 (Ecclesia) – O diretor do Secretariado Nacional das Comunicações Sociais (SNCS) da Igreja, disse hoje à Agência ECCLESIA que D. Eurico Dias Nogueira, falecido esta segunda-feira, foi um homem de “convicções” que promoveu o diálogo e a renovação pastoral.
“Guardo dele esta imagem de solidez, de diálogo, da capacidade de fazer pontes sem nunca prescindir da firmeza das suas convicções”, referiu o cónego João Aguiar.
O sacerdote, da Arquidiocese de Braga, recorda o arcebispo emérito como um “renovador” da pastoral e do diálogo “entre as diversas sensibilidades”.
“Foi uma voz forte, que se fazia ouvir com o prestígio da sua cultura, a coerência do seu passado, adquirida nomeadamente em Coimbra e em África”, assinala.
O diretor do SNCS recorda que quando D. Eurico Dias Nogueira chegou a Braga, em 1977, foi catalogado como “bispo socialista” por alguns partidos, que se foram “desiludindo no caminho”.
Nesta missão, o arcebispo assumiu-se como “defensor da liberdade, de uma democracia séria, defensor inclusive de uma Constituição que tivesse em conta a cultura democrática do Ocidente”.
D. Eurico Dias Nogueira chegou a Braga num momento “difícil” e foi capaz de criar “pontes”, num diálogo “caridoso” que não significava “cedência”.
Em relação à ação pastoral, o cónego João Aguiar recorda a convocação do 40.º Sínodo Diocesano, a renovação dos seminários e a aposta na presença da Universidade Católica.
O falecido bispo foi ainda uma voz “culturalmente ouvida” fora da Igreja, tendo integrado o Senado da Universidade do Minho, instituição académica que lhe atribuiu o doutoramento ‘honoris causa’ (17 de fevereiro de 1990).
O diretor do SNCS, antigo responsável pelo jornal diocesano ‘Diário do Minho’, recorda também a aposta de D. Eurico Dias Nogueira na Comunicação Social, “com a marca da sua personalidade extremamente afetiva”.
A relação pessoal foi cultivada em encontros semanais às quintas-feiras, “durante anos”, dos quais o sacerdote guarda a memória do “extraordinário sentido de humor” e de um “excelente contador de histórias”.
O falecido prelado era natural da Diocese de Coimbra e estudou em Roma; a 10 de julho de 1964 o Papa Paulo VI nomeou-o bispo de Vila Cabral, atual Lichinga, em Moçambique, tendo participado na terceira sessão do Concílio Vaticano II, assembleia que decorreu de 1962 a 1965.
Segundo o cónego João Aguiar, o último participante português no Vaticano II (1962-1965) a falecer trouxe desta reunião magna a “afirmação da sua liberdade” seguindo-se a “constatação de que o Concílio não estava a ser recebido com a atenção, com a velocidade que merecia”.
“Cultivava a alegria, vou chamar-lhe prestígio, de ser um padre conciliar”, conclui.
D. Eurico Dias Nogueira recebeu a ordenação episcopal no dia 6 de dezembro de 1964 e em 1972 foi transferido para Sá da Bandeira, hoje Lubango, em Angola; pediu a resignação da diocese angolana, aceite por Paulo VI a 3 de fevereiro de 1977, e a 5 de novembro do mesmo ano o Papa italiano nomeou-o arcebispo de Braga, missão que manteria durante mais de duas décadas.
João Manuel Duque, presidente do Centro Regional de Braga da UCP, publicou uma mensagem em que recorda D. Eurico Dias Nogueira como um “patrono” que desempenhou “um papel fundamental na consolidação da presença” da instituição académica na cidade.
O funeral do arcebispo emérito vai realizar-se esta quarta-feira, às 15h30, na Sé de Braga.
PR/OC