Padre e ensaísta destacam importância desta discussão para a existência de cada pessoa
Lisboa, 18 set 2013 (Ecclesia) – O ensaísta Eduardo Lourenço e o padre José Tolentino Mendonça debateram o tema “Luz da Fé e os Desafios das Periferias” no Centro de Reflexão Cristã, esta terça-feira, iniciando o ciclo de colóquios para 2013/2014.
“A fé muitas vezes é olhada como um tema privado, que só diz respeito ao mundo interior de cada um, e isso cria nas nossas sociedades uma ausência muito grande porque é um debate em torno daquilo que dá sentido à existência”, explica o padre e poeta José Tolentino Mendonça, diretor do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura, à Agência ECCLESIA.
O ensaísta Eduardo Lourenço considerou que o colóquio em torno da temática da fé – para si, “uma questão temerosa”, porque a fé enquanto manifestação religiosa é diferente da fé enquanto algo “natural que a humanidade inteira dispõe” – “impõe-se por outros motivos mais profundos que estão aquém da razão e ao mesmo tempo além da razão”.
O debate partiu da encíclica ‘Luz da Fé’, iniciada pelo Papa emérito Bento XVI e concluída pelo Papa Francisco, e do apelo constante deste último para que a Igreja Católica esteja mais atenta às ‘periferias’, aos que estão mais longe da fé.
Para o padre José Tolentino Mendonça as dificuldades de hoje não precisam “apenas de remendos”, mas de uma reflexão em comunidade sobre questões como: “O que somos, do que queremos ser e do que somos chamados a ser, o que é que é importante, o que dá sentido à nossa vida, àquilo em que acreditamos e duvidamos”?.
Nas suas intervenções, o Papa Francisco tem apelado aos cristãos para que participem e estejam mais presentes na política e o diretor do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura considera que hoje já não existe a “alergia” que se verificou no passado.
“Existem muitos bons exemplos e sobretudo há uma força no interior do próprio cristianismo que não cessa nunca de reenviar o cristão para a prática e para o compromisso, seja ele qual for”, revelou o sacerdote madeirense.
Eduardo Lourenço assinalou, por sua vez, que a política não está relacionada diretamente com a religião mas tem de estar atenta “àquilo que a exigência religiosa manifesta”.
A colaboração de todos é necessária para “encontrar saídas” que ajudem Portugal a superar a situação atual.
Por isso, o ensaísta acrescenta que a participação dos cristãos na política é necessária, não só em Portugal mas também em “toda a Europa”, sobretudo em países que ainda os consideram “uma espécie de óbice ao progresso da humanidade”, uma ideia “antiquada”: “O cristianismo é muito mais do que só uma religião, porque ajudou a inventar a cultura e a sociedade que é a nossa”.
O CRC apresenta-se como um espaço de “diálogo entre cristãos de diferentes sensibilidades e entre cristãos e não cristãos”.
CB/OC