Comentador apresentou reflexão sobre a identidade do Portugal na conferência inicial do «Átrio dos Gentios»
Guimarães, Braga, 16 nov 2012 (Ecclesia) – O comentador e professor universitário Marcelo Rebelo de Sousa inaugurou hoje a sessão do Átrio dos Gentios em Guimarães, com uma conferência sobre a identidade de Portugal, lamentando o “esbatimento” da dimensão religiosa e espiritual.
Na conferência inaugural da iniciativa de diálogo entre crentes e não crentes, promovida pelo Vaticano, o responsável adiantou que esse fenómeno aconteceu por causa de uma “rápida secularização” que remeteu as manifestações da fé para os espaços privados.
Marcelo Rebelo de Sousa afirmou que o Portugal de hoje assistiu à “conversão do catolicismo num fenómeno estranho”, por ser minoritário em termos de “comportamentos e de valores”, apesar da sua história.
“Num país em que tem sido decisivo o papel de incontáveis instituições de solidariedade social, de inspiração religiosa ou espiritual, assistir-se ao apagamento dessa componente não deixa de ser perplexizante”, observou, na iniciativa dedicada ao tema ‘O Valor da Vida’, perante centenas de pessoas reunidas no Auditório Nobre da Universidade do Minho.
Segundo o especialista, “uma identidade é inseparável de um sentido de vida, exige mais do que passado, convoca para o futuro, baseado inevitavelmente nos valores”.
Rebelo de Sousa convidou a “recolocar os valores, o espírito, o que falta no domínio da cultura vivida, para construir o Portugal futuro, com novos e velhos”.
O conferencista disse que o “maior défice nacional” é o do valor da vida, um desafio que se coloca ao Átrio dos Gentios.
Nesse sentido, destacou a importância deste projeto de diálogo entre crentes e não crentes para fomentar o “respeito das pré-compreensões alheias” e “espírito de diálogo” necessário para a construção da justiça, da paz e da fraternidade.
Rebelo de Sousa admitiu que “falar de Portugal” é uma “missão ingrata” e perguntou mesmo: “Será que existe uma identidade portuguesa e o que é que a define?”.
O comentador e professor universitário defende que “o Portugal letrado” não pode “comparar-se ao Portugal iletrado” e que o “Portugal que dá esperança é o das revoluções populares”.
A conferência aludiu à necessidade de uma nova relação entre “pessoas e poderes” para enfrentar uma “grave crise interna e externa” que coloca “problemas árduos de coesão nacional”.
Rebelo de Sousa citou escritores e pensadores, frisando que Portugal pode definir-se, segundo vários pontos de vista, pelo território, pela “rica variedade” dos povos que se radicaram no país, pela sua história, pela língua ou pela sua cultura.
Neste contexto, prosseguiu, destaca-se a centralidade de “Fátima”, da religião, e da “esperança constante num milagre”.
Pelas 21h30, o neurocirurgião João Lobo Antunes vai refletir com o cardeal Gianfranco Ravasi, presidente do CPC, sobre ‘O valor e o sentido da vida de cada ser humano’.
O sábado, dia final do Átrio dos Gentios, vai englobar debates sobre ‘estilo de vida e salvaguarda do universo’, desde várias perspetivas, para além de momentos culturais, com concertos, exposições e a apresentação de uma peça de teatro.
O Átrio dos Gentios pode ser seguido com emissão vídeo online, em direto, assegurada pela Agência ECCLESIA, em parceria com o portal SAPO.
OC