Igreja/Cultura: José Mattoso diz que primeira exortação apostólica do Papa é convite a «não ter medo»

Historiador recorda necessidade de «proclamar a fé no invisível»

Lisboa, 09 dez 2013 (Ecclesia) – O historiador José Mattoso destacou o “convite a não ter medo” na exortação apostólica ‘Evangelii Gaudium’ do Papa Francisco e a necessidade de se viverem as bem-aventuranças, “a pobreza, a perseguição, a luta pela justiça e pela paz”.

“O medo de imitar a Jesus Cristo, de aparecer como cristão aos olhos do mundo, de proclamar os direitos dos pobres e oprimidos, de saltar fora do mercado. A relação com Deus fonte de alegria também deve tirar-nos o medo de dialogar com os não-crentes e os não-cristãos, de celebrar com os pecadores, de desafiar a racionalidade pseudocientífica por meio da poesia e do afeto, de proclamar a fé no invisível”, revela José Mattoso, em texto de opinião publicado no blogue Religionline a respeito do documento pontifício ‘A alegria do Evangelho’.

Para o historiador, se  as religiões estão em crise isso não se deve apenas ao “capitalismo” que “transforma os homens e mulheres em robots” ou a um “consumo irresponsável e alienante”, mas é sobretudo por se terem “contaminado e profanado as fontes da alegria por meio do medo”.

Nesse sentido, a alegria deve ser “identitária” e o especialista considera que Francisco propõe que se viva essa alegria, “a fazê-la nascer ou renascer nos corações, torná-la autêntica, invasora, comunicativa, irresistível, radical, estrutural, luminosa, perspicaz, pacífica, fecunda”.

Uma alegria que “só será completa quando se tornar evidente a vitória definitiva da justiça sobre a mentira; da pobreza sobre os abusos do poder; da mansidão sobre a violência; da solidariedade sobre a exclusão dos pobres”, desenvolve.

Por isso, o maior desafio “talvez” seja a vivência séria das “bem-aventuranças (a pobreza, a perseguição, a luta pela justiça e pela paz), para não pactuar com o poder económico nem com o poder político”.

Na sua análise, José Mattoso explica que “não é possível descobrir por que caminhos se pode vencer o Mal” mas identifica nove pontos “em que o horizonte de trevas” parece deixar passar “alguma luz”, como “o interesse do clero e dos cristãos pela cultura”; “A condenação do capitalismo que marginaliza os mais fracos” ou “o diálogo das religiões”.

Na exortação apostólica “Evangelii Gaudium”, o Papa “mantém as posições dogmáticas tradicionais”, algo que o historiador considera como “condição para evitar cismas e polémicas fraturantes”.

“Aqueles que sentem a Exortação como um verdadeiro convite à alegria solidária, não podem deixar de exigir de todas as instâncias da hierarquia a renúncia às práticas canónicas de exclusão”, acrescenta.

CB/OC

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Agência ECCLESIA

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