Lisboa, 18 abr 2024 (Ecclesia) – O Centro Nacional de Cultura (CNC), em Lisboa, promove hoje, dia 18, um debate sobre «O Manifesto da Revista Raiz & Utopia, agora», às 18h00, com a participação de Carlos Laranjo Medeiros, Maria Bello, Rita Azevedo Gomes e moderação de Guilherme d’Oliveira Martins.
A revista Raiz & Utopia surgiu na Primavera de 77 e vivia-se em Portugal “o efeito de um confronto – se não sangrento, pelo menos violento, – de que os saneamentos e as campanhas de dinamização cultural do MFA foram aspetos desgastantes mesmo à distância, mais pareçam anedóticos”, lê-se numa nota enviada à Agência ECCLESIA.
A sociedade estava cansada de “palavras de ordem” e de “um excesso de politização”, o que explica “o amplo movimento de adesão que se criou em torno da revista”.
Ao manifesto Raiz & Utopia (que teve três autores, António José Saraiva, José Baptista e Carlos Medeiros, os dois primeiros já desaparecidos) reagiram por escrito dezenas de intelectuais e políticos de vários horizontes – e “essa foi uma primeira grande vitória” da Raiz & Utopia a que se “viriam a somar outras semelhantes ao longo da sua existência, que terminou no Outono de 81”, realça o comunicado.
A Raiz & Utopia – de que Helena Vaz da Silva assegurou a direção a partir do nº 5 até ao fim – foi, de facto, uma “pedrada no charco” enquanto existiu.
A revista perfez um ciclo – nasceu na Primavera, morreu no Outono, 4 anos volvidos, – mas o seu apelo a uma utopia radical, em favor de um repensar dos fundamentos da vida, propagou-se e deixou sementes.
No âmbito dos 50 anos do 25 de Abril de 1974, o Centro Nacional de Cultura, que tem vindo a tratar o espólio da revista Raiz & Utopia, pretende assinalar a importância da publicação como momento fundamental de reflexão e debate na fase de estabilização da democracia, através de uma exposição que está patente na sua sede entre 01 de abril e 03 de maio e de um debate sobre a revista que terá lugar no dia 18 de abril às 18h, também nas instalações do CNC.
LFS
Resumo do MANIFESTO
Os burocratas, tecnocratas e salvadores políticos dos vários mundos, independentemente das suas diferenças de situação e doutrina, estão empenhados em consolidar um sistema em que a grande maioria dos homens executa mecanicamente as decisões tomadas por alguns. Torna-se cada vez mais urgente restituir a cada homem a sua humanidade, quadriculada e esquartejada num mundo cada vez mais programado. “Raiz & Utopia” não propõe uma nova doutrina no plano político e ideológico em que se exibem os actores do dia. Não contribui para o discurso dominante. Tão pouco alinha com o que é moda chamar-se “ciência”. Recusa a ilusão do “progresso” considerando que a famosa “marcha da humanidade” é um comboio num túnel em forma de funil. Os problemas de raiz estão hoje escamoteados no discurso tecnoburocrata. É preciso mudar radicalmente a problemática a partir do quotidiano, transformar a atitude do espírito perante as coisas. A utopia não é um impossível: é um Norte, a Leste ou a Oeste das ilusões confortáveis que hoje são servidas como ópio às massas resignadas. |