Fátima, Santarém, 11 set 2014 (Ecclesia) – Acácio Catarino, especialista em Doutrina Social da Igreja, salientou hoje em Fátima a importância da ação dos leigos no diálogo social num painel onde apresentou a “Experiência de diálogo Comissão Nacional Justiça e Paz, ACEGE, LOC/MTC”.
“Eu creio que a iniciativa deveria partir particularmente dos leigos, não estamos à espera da hierarquia. Na prática recomenda-se que cada grupo de cristãos, na sua família, nos diferentes movimentos tome as iniciativas que tiver por convenientes na certeza que é difícil”, explicou à Agência ECCLESIA.
“Nesta perspetiva do diálogo partimos do princípio que todos somos cooperantes e em vez de falarmos em divergências devemos falar em complementaridades”, acrescentou.
Após a intervenção no 29.º Encontro da Pastoral Social, o conferencista explica que os objetivos do diálogo social, no interior da Igreja, se sintetizam em dois: “Comunhão fraterna e pluralista entre os cristãos, preparando e ‘antecipando’ o ‘século futuro’”.
Para concretizar estes objetivos, o especialista em Doutrina Social da Igreja (DSI), assinala quatro conjuntos de atividades: “A análise da realidade socioeconómica e dos diferentes pontos de vista dos participantes no diálogo; a melhor fundamentação das orientações a adotar, mesmo que divergentes, na esfera sociopolítica, à luz da DSI”.
“A transformação gradual das divergências em complementaridades, visando as convergências possíveis e a participação ativa nas realidades sociopolíticas, a favor do bem comum”, são os restantes conjuntos de atividades.
Para o interlocutor, a Igreja ainda é “bastante” hierarquizada e com uma “certa propensão para o maniqueísmo” porque nos encontros e reuniões existe ainda o “princípio” que uns são os bons e os outros são os maus.
“Devido a um ‘excessivo clericalismo’ e a outros fatores, a ação dos cristãos leigos ‘limita-se muitas vezes às tarefas no seio da igreja’, sem reflexo na penetração dos valores cristãos no mundo social, político e económico’; nem na ‘transformação da sociedade’, disse também no IV painel "O diálogo social como contribuição para a paz", nas Jornadas da Pastoral Social, em Fátima.
Nesse sentido, Acácio Catarino recomenda que as pessoas se desinstalem, se agrupem em grupos de reflexão numa “perspetiva do diálogo” com a “consciência que há posições diferentes”.
“Não vamos partir do princípio que há unanimidade e não vamos esperar que haja no final”, desenvolve o interlocutor que destaca a importância das pessoas, “nas diferentes posições”, tentarem “entendimentos possíveis e cooperarem” mesmo que “se mantenham as divergências”.
Para o antigo conselheiro presidencial as várias dimensões, umas mais espirituais e outras de preocupação social ainda surgem compartimentadas.
“Poderemos dizer que o entendimento da espiritualidade que predomina é a que parte do pressuposto que estamos todos unidos. Estamos unidos na perspetiva cristã mas nas realidades terrestres estamos divididos ou pelo menos em divergência”, analisou.
“Importa que saibamos fazer a comunhão fraterna dentro da Igreja”, acrescentou Acácio Catarino.
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