Igreja/Crise: Bispo de Bragança critica «cortes cegos»

«Aquilo que é essencial na construção da sociedade não pode ser cortado para fazer face a um défice», disse hoje D. José Cordeiro

Bragança, 24 jan (Ecclesia) – O bispo de Bragança-Miranda criticou hoje a estratégia adotada pelo Estado para combater a crise económica, salientando que “aquilo que é essencial na construção da sociedade não pode ser cortado para fazer face a um défice”.

“É preciso pagar – é evidente – aquilo que nos compete pagar, mas é preciso não beliscar a dignidade da pessoa humana e o bem comum”, salientou D. José Cordeiro durante um encontro com os órgãos de comunicação social, inserido no dia do padroeiro dos jornalistas, São Francisco Sales.

De acordo com a Agência Lusa, o prelado salientou que “já são muitos os sacrifícios” e os “cortes” impostos aos portugueses, alguns deles incompreensíveis.

O bispo de Bragança-Miranda deu como exemplo as restrições ao financiamento da área de investigação, apontando “que às vezes dá a impressão que há cortes cegos”.

“As universidades não podem ser só para o ensino, têm que ser também para o campo da investigação porque senão estamos a decapitar o melhor que temos em Portugal e depois lamentamo-nos e a fatura vem aí logo de seguida”, sustentou.

No distrito de Bragança, as instituições sociais ligadas à Igreja Católica não têm tido mãos a medir na ajuda às populações mais carenciadas – Segundo D. José Cordeiro, “só a Cáritas Diocesana, em 2013, apoiou mais de 11 mil pessoas”.

Para o responsável católico, esta realidade é “muito preocupante”, não só pelo número de pessoas em risco no território mas também porque as instituições sociais da Igreja são muitas vezes a única retaguarda das comunidades.

“Enquanto for possível”, estes mecanismos solidários vão aguentar, “mas é preciso que o Estado, é preciso que outras instituições façam a sua parte”, alertou o prelado.

Esta quinta-feira, o Ministério das Finanças revelou que o défice público de Portugal em 2013 ficou abaixo da meta de 5,5 por cento estipulada pelo Fundo Monetário Internacional, Comissão Europeia e Banco Central Europeu.

Para o bispo de Bragança-Miranda, apesar dos últimos indicadores parecerem positivos, eles não podem criar “ilusão nas pessoas”, é preciso garantir também “alguma sobriedade, prudência e inteligência na gestão económica das famílias, das pessoas e do bem comum em geral”.

“Oxalá que a crise tenha servido de lição, a própria etimologia quer dizer um tempo de purificação, de decisão, que da crise todos possam tirar novas oportunidades para que a vida tenha um sentido e as pessoas vivamos com esperança”, concluiu.

JCP

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