Cónego Silvestre Marques fala de uma espiritualidade que inspira a política, a cultura, a economia e vários credos
Lisboa, 23 mai 2020 (Ecclesia) – O Movimento dos Focolares está a assinalar o centenário do nascimento da sua fundadora, Chiara Lubich, num contexto de pandemia que evoca as dificuldades encontradas aquando do nascimento do movimento, após a II Guerra Mundial.
“Celebrar para encontrar” é o tema que inspira esta ocasião que, na opinião dos responsáveis pelo Movimento, “pretende ser mais que uma simples evocação histórica”.
Chiara Lubich, que nasceu na cidade italiana de Trento a 22 de janeiro de 1920; viria a consagrar-se a Deus em 1943, propondo o ideal da unidade e fundando posteriormente o movimento dos Focolares.
“Estabelecer hoje uma relação com Chiara, é sobretudo encontrá-la no seu carisma” recorda o cónego Silvestre Marques, postulador da Causa Canonização.
Em declarações à Agência ECCLESIA, o sacerdote português sublinha o facto de, no centenário de Chiara Lubich, se estar a repetir uma situação “muito idêntica” àquela que acompanhou o nascimento do carisma.
Em 1943, quando Chiara se consagra a Deus, vivia com as suas companheiras, confinada sob os bombardeamentos da II Guerra Mundial que fustigavam Trento no norte de Itália. Agora vivemos confinados por um vírus que volta a despertar as mesmas interrogações…”.
Na época, as bombas não destruíam apenas edifícios, destruíam uma sociedade, a economia, os laços de amizade e familiares, uma realidade que levou a fundadora do Movimento dos Focolares a uma conclusão: “Tudo passa, tudo é vaidade das vaidades…”
A constatação gera em Chiara Lubich, também uma pergunta sobre um “ideal que não passe”.
O postulador da Causa de Canonização considera que o início deste ano de 2020 trouxe “a mesma pergunta”.
“Podemos morrer de um momento para o outro, ser atingidos por uma calamidade ainda maior, não sabemos o que nos espera nos próximos meses e, portanto, o contexto é idêntico”, indica o cónego Silvestre Marques.
O capítulo 17 do Evangelho segundo João apresenta a expressão que haveria de inspirar Chiara Lubich a definir o ideal da unidade, centro do carisma do Movimento dos Focolares: “Pai, que todos sejam um… como tu e eu somos um”.
“Chiara não tem um carisma meramente espiritual, ele sublinha a santidade coletiva de um saber-se chamados à santidade” sublinha o postulador da Causa de Canonização.
“Chiara sente que o apelo a que todos sejam um, é para se aplicar à política, à cultura, à economia, é para se aplicar às igrejas, aos credos”, acrescenta o cónego Silvestre Marques.
O sacerdote da Arquidiocese de Évora, um dos responsáveis internacionais do Movimento dos Focolares, salienta que o ideal da unidade é também coincidente com o projeto europeu.
O ideal que nasce no coração desses homens cristãos que fundaram a União Europeia é precisamente o ideal da unidade”.
Para assinalar este centenário, o Paço Episcopal do Porto acolheu uma exposição alusiva à vida e obra de Chiara Lubich, mas as contingências da pandemia inviabilizaram as visitas a esta mostra; ainda é possível a visita virtual à exposição sobre Chiara Lubich que está patente em Trento, a sua cidade Natal.
HM/OC
Em novembro de 2019, na catedral de Frascati (Itália) concluiu-se a fase diocesana do Processo Canonização de Chiara Lubich, fundadora do Movimento dos Focolares, hoje presente em 182 países, dos cinco continentes. |