Missionário português comenta cimeira do clima e apresenta recente livro «Missão de Servir 3», que reúne textos da primeira parte do mandato enquanto conselheiro geral dos Espiritanos

Lisboa, 28 nov 2025 (Ecclesia) – O padre Tony Neves, assistente geral da Congregação do Espírito Santo, considera que a 30ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas para as Alterações Climáticas (COP30) provou que os interesses económicos são prioridade relativamente ao humano.
“A COP30 mostrou que há quem não queira apostar numa humanidade, no sentido profundo da palavra, mas queiram que o económico e financeiro ainda passe por cima do humano. Somos capazes de estragar a terra e de matar humanos para ter mais dinheiro. Isso não é humano”, afirmou o padre Tony Neves, em declarações à Agência ECCLESIA.
A Cimeira do Clima da ONU decorreu entre os dias 10 e 21 de novembro, na cidade brasileira de Belém, no Pará.
O missionário espiritano, que coordenou durante três anos o Departamento de Justiça, Paz e Integridade da Criação dos Espiritanos, aponta a necessidade de “reconquistar uma mentalidade ecológica integral para que o mundo tenha futuro” e a “casa comum possa ser, de facto, a casa de todos”.
O missionário espiritano considera que esta cimeira do clima foi “uma meia desilusão”, justificando que se mostrou que “aquilo que se pensava que tinha sido adquirido há 10 anos em Paris e nas COP seguintes”, sobretudo “transição ecológica, passar das energias fósseis para energias menos poluentes”, afinal não está apreendido.
“Pensava-se que esse caminho estava a ganho e, de facto, os interesses norte-americanos, dos países árabes, da Índia, puseram um bocadinho de água fria em cima deste calor ecológico que estava praticamente assumido”, indicou.
O padre Tony Neves defende que o “fundo para ajudar os países mais pobres a fazer a transição ecológica também deveria ter sido reforçado”, realçando que é preciso apoiar economicamente quem investe na floresta e os povos que ali vivem.
Há interesses económicos enormes em tudo o que é fóssil, em tudo o que é vendas, o negócio da floresta é um negócio muito rentável, mas, por outro lado, eu acho que há uma sensibilidade crescente a estas questões e temos que nos salvar todos juntos”, destacou.
Apesar de considerar que a COP30 não falhou no essencial, o sacerdote entende que deveria ter dados mais passos como o “combate definitivo e decisivo às energias fósseis”, que não aconteceu, uma vez que, acrescenta, há muitos que lucram com isso.
Ainda assim, o missionário espiritano acredita que o combate à crise climática “é um processo irreversível, que pode ter ligeiros abrandamentos”.
Sacerdote há 36 anos, o padre Tony Neves escreve crónicas semanalmente, que também estão disponíveis na Agência ECCLESIA, onde cabem temas como o cuidado com a criação, e vai lançar um novo livro intitulado “Missão de Servir 3”, que reúne artigos, conferências, entrevistas e reportagens.
“Fui eleito na Tanzânia, em 2021, como conselheiro-geral, um mandato até 2029, mas 2025 é um ano intercalar, porque marca a primeira parte desse mandato. E então achei que era o momento oportuno para pôr mais uma vez juntos esses textos”, explicou o padre Tony Neves. A nova obra segue-se a duas outras edições que reuniram escritos sobre o mandato de seis anos do missionário enquanto provincial dos Espiritanos em Portugal (Missão de Servir 1) e sobre a coordenação de três anos do Departamento de Justiça, Paz e Integridade da Criação da congregação (Missão de Servir 2). “A parte que eu acho mais interessante, porque também é mais plural, mais acessível, é a parte das reportagens, que são muitas, porque a minha vida de conselheiro obriga-me a viajar muito e a visitar, no terreno, os meus colegas missionários espiritanos”, referiu. Entre as várias histórias que a nova publicação abrange, o autor destaca a última reportagem que realizou em Angola, que o levou a “percorrer praticamente o país todo” e a encontrar “comunidades tão diversas e plurais”. “A gente acha que o mundo é todo igual, não é igual. As realidades são muito diferentes. E eu acho que essa riqueza da diversidade está muito presente na obra”, salienta. O padre António Neves explica que escreve para “não deixar perder”, para “conseguir comunicar” e “ajudar as pessoas” que o leem, o ouvem e veem a perceber “o mundo está desigual”, mas isso não quer dizer que esteja perdido. “É um mundo que tem muita riqueza, tem muita beleza, tem gente que faz coisas extraordinárias, embora também tenha muita pobreza, muita miséria, e gente que faz coisas muito más. E eu tento sempre olhar para o lado bom da história”, salienta. “E acho que pelo meu livro também passa um bocadinho esses sentimentos, mas com uma focagem muito clara naquilo que é bom, naquilo que constrói, naquilo que rasga futuros de justiça, de paz, de respeito pelos direitos humanos”, desenvolve. São muitas as geografias e continentes pelos quais já passou o padre Tony Neves, que não percebe o “retrocesso civilizacional” a que se chegou no que respeita aos migrantes. “Se calhar em Portugal sempre se disseram coisas menos positivas em relação a quem vem de fora, se calhar sempre tivemos discursos que não constroem, mas o facto de hoje em dia isso ser politicamente assumido por diversas forças partidárias, isso para mim preocupa-me muito”, assinalou. ![]() Para o padre Tony Neves, “é absolutamente desumano falar como se fala dos migrantes, falar como se fala das pessoas que são estrangeiras e, sobretudo, querer achar que Portugal é um país uniforme em relação à origem dos seus cidadãos, à cor da pele, à raça, à convicção religiosa, porque isso não traduz a verdade”.
O livro “Missão de Servir 3” vai ser apresentado no dia 6 de dezembro, pelas 19h, na Capela Nova de Jancido, na Foz do Sousa, em Gondomar, pelo padre Hugo Ventura, superior provincial dos Espiritanos em Portugal, um momento antecedido pela Eucaristia (16h) e seguido de um momento de confraternização. |
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