Igreja comunitária

Piedade Lalanda, Diocese de Angra

Foto: agendacores.pt

A Igreja não é um templo, mas é a comunidade onde este se insere.

E, se a igreja não se fizer comunidade, fica reduzida a um edifício histórico, património material, que nos recorda a própria história dos homens e da sua relação com Deus. Um Deus distante, autoritário, de quem o povo tinha medo e, de cabeça baixa, se curvava diante do clero, sem compreender o latim dos rituais.

A igreja quer-se comunidade. Foi assim que o novo bispo dos Açores, D. Armando Domingues, a apresentou ao povo desta região, falando de uma comunidade de portas abertas, que acolhe e não escolhe; que escuta primeiro e não doutrina sem ouvir.

O novo bispo convidou os açorianos a participarem na construção desta comunidade, porque não quer ser um bispo sozinho (“precisamos uns dos outros”), nem pretende “governar” do alto do seu poder de Excelência reverendíssima.

D. Armando Domingues mostrou-se ao povo como um “bispo-pároco”, que conhece o valor da participação dos leigos, quando não se limitam a ser fiéis. Leigos que fazem a diferença na vida de uma comunidade cristã e não se resumem aqueles que frequentam os templos. São crentes, ou não, do centro ou das periferias, da primeira ou da última hora. A comunidade tem de cuidar uns dos outros, construindo uma igreja doméstica, familiar, onde todos sintam que têm lugar, incluindo aqueles que se afastaram, seja por que motivo for, um divórcio ou por se sentirem incompreendidos na sua condição humana, vulnerável ou diferente.

A comunidade será tanto mais dinâmica quanto mais apaixonada estiver pelo ideal de Amor que Cristo pregou. Como referiu D. Armando, olhemos para o momento em que Jesus diz a João: “eis a tua mãe” e complementa dizendo a Maria, “eis o teu filho”. Nessa hora, em que Jesus terminava a sua missão terrena, ficava uma nova interdependência, como gosta de dizer D. Armando, entre o povo cristão e Maria, que já não é só a Mãe de Jesus, mas a nossa também.

No contexto português, a Região Autónoma dos Açores é aquela onde mais pessoas residentes se assumem como católicas. Em 2021, o recenseamento da população registava 90,9% de católicos, quando no país era de 80,1%. Fica a questão, serão católicos por tradição ou por devoção? Serão praticantes, assíduos ao templo ou, sobretudo, devotos de uma religiosidade popular, que se anima por altura das festividades do Sr. Santo Cristo ou do Espírito Santo? Seja como for, dizia D. Armando Domingues na sua missa episcopal, não há caminhos certos ou errados, quando o que anima as pessoas é a procura do bem, a partilha do pão, a dádiva de si aos outros e a gratidão pela força espiritual recebida, num momento de dificuldade ou sofrimento.

Este é sem dúvida um povo que sempre procurou no divino a coragem para enfrentar as adversidades da natureza e da vida humana, a partida para a guerra ou a emigração. Os que ficam, aprendem a juntar esforços para serem mais fortes. Sendo um povo tão pequeno, levou o culto do Espírito Santo para onde quer que fosse, do Brasil ao Canadá, das Américas à Bermuda.

Sem dúvida que os açorianos encontraram na sua religiosidade um sentido de comunidade e de solidariedade para com os mais fragilizados, o que por vezes falta na vida paroquial.

A diocese dos Açores está prestes a completar 500 anos de existência. Sendo esta uma Região da ultraperiferia europeia, a sua coesão exige que se derrubem as fronteiras internas, que separam os ricos dos pobres e fazem aumentar a exclusão de quem é diferente, criando pedintes e justificando esmolas.

A igreja que se faz comunidade é um lugar de portas abertas onde todos são bem-vindos. Comunidade fraterna, das romarias quaresmais, a igreja dos Açores precisa trazer os jovens à espiritualidade que fortalece, ao convívio que estimula a solidariedade e à reflexão que questiona certezas anquilosadas, derruba barreiras e abre as portas ao futuro.

Uma igreja que não se faz comunidade está moribunda, feita museu para turista visitar.

D. Armando Domingues mostrou publicamente que, na diocese dos Açores, à semelhança do que disse o Papa Francisco, há lugar para todos.

Piedade Lalanda, do Serviço Diocesano da pastoral Social da Diocese de Angra

 

 

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Agência ECCLESIA

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