Padre Paulo Duarte, sacerdote português, sublinha importância de construir comunidade a partir do online

Lisboa, 19 jul 2025 (Ecclesia) – O Vaticano vai promover entre 28 e 29 de julho um inédito Jubileu dos Missionários Digitais e Influenciadores Católicos, iniciativa apresentada como “um marco para a evangelização online”, com participação portuguesa.
“As pessoas estão desejosas de espiritualidade e querem pedir à Igreja: ‘olhem para nós’. É um outro modo de dizer olhem para nós”, refere à Agência ECCLESIA o padre Paulo Duarte, religioso jesuíta.
O sacerdote foi o único português convidado para a promoção do inquérito do Sínodo 2021-2024 nas redes digitais, estando presente nessas plataformas há vários anos, com dezenas de milhares de seguidores.
O padre Paulo Duarte saúda a inclusão, na programação do Ano Santo, de uma celebração dedicada à “realidade nova” do mundo digital, onde “muita gente se manifesta”, na Igreja e na sociedade.
“Os dons de Deus estão a ser impostos a render. A tecnologia também é uma evolução do conhecimento”, aponta o entrevistado.
O religioso jesuíta, adjunto do diretor da Rede Mundial de Oração do Papa (RMOP)-Portugal, assume que o “grande boom” da realidade digital, na Igreja, aconteceu a partir da pandemia de Covid-19, em 2020.
“As pessoas têm um desejo de Igreja, têm um desejo de comunidade, têm um desejo de se aproximar. A Igreja tem algo a dizer-lhes”, defende.
O padre Paulo Duarte admite que a impressão generalizada é de que “há muita gente a afastar-se da Igreja”, mas vê como contraponto “todas as manifestações ao nível de comunicação e ao nível do digital, que é um meio, é um caminho de encontro”.
A presença online implica desafios, como “lidar com a intensidade das redes” ou a “questão do ego”.
“As coisas estão todas aqui, acho que se tem de trabalhar ao nível espiritual também isso”, assume o entrevistado.
Para o sacerdote português, o foco passa pela “criação de relação”, entendendo que “o digital tem de estar em relação com o local”.
“Acho que é importante, enquanto Igreja, tomarmos noção de que este é também um meio, como foram a rádio, a televisão, a imprensa, permitindo chegar a mais gente”, acrescenta.
O padre Paulo Duarte indica que, após os primeiros contactos nas redes digitais, as comunidades devem promover o “acompanhamento” das pessoas que chegam, procurando evitar o “imediatismo” e promover a “relação com Deus, uns com os outros”.
O religioso apresenta como “estilo” a publicação de fotografias com texto, assinalando que a necessidade de “tempos de silêncio” têm impactos negativos na lógica do “algoritmo”.
“Mesmo que seja uma luta cada vez maior, um remar contra a maré, é preciso promover tempo de silêncio. Que a reflexão seja ajuda ao silêncio”, insiste.
Para o responsável, a presença no digital deve ajudar a “perceber que a relação com Deus não é fogo de artifício”.
Quanto ao encontro no Vaticano, o padre Paulo Duarte espera que o encontro ajuda todos a refletir sobre “as luzes e as sombras, as capacidades e os dons para pôr a render, para ajudar a comunidade”.
O religioso evoca a “muita fragilidade que está escondida atrás de um ecrã”.
“Está a aumentar a solidão, estão a aumentar as tensões, às vezes a falta de esperança até o desespero, com tanta informação negativa”, adverte.
O padre Paulo Duarte fala numa “uma grande responsabilidade”, que convida os responsáveis católicos a “pôr os dons a render, mantendo um foco de que o bem tem de ser o bem maior, já não pode ser só o meu bem”.
“São milhares de pessoas com as suas dificuldades e nós podemos ajudá-las verdadeiramente de outro modo”, concluiu.
Segundo o Vaticano, este Jubileu é para “todos aqueles que evangelizam no ambiente digital, compartilhando a mensagem do Evangelho em redes sociais, blogs, canais e aplicativos”.
OC