Igreja/Comunicação: Papa «dá o sal» para «condimentar ricamente forma de fazer jornalismo com responsabilidade», afirma presidente da Associação de Imprensa de Inspiração Cristã

Francisco incentiva a «praticar uma comunicação que saiba curar as feridas da nossa humanidade»

Roma, 25 jan 2025 (Ecclesia) – ‘Partilhai com mansidão a esperança que está nos vossos corações’, é o tema da mensagem do Papa para o Dia Mundial da Comunicações Sociais 2025, com desafios para jornalistas e comunicadores.

“O Papa dá-nos o sal para que possamos, de facto, condimentar ricamente esta forma de fazer jornalismo com responsabilidade, com sobriedade, mas também, acima de tudo, com humanismo. E não ir atrás do ‘soundbite’, não ir atrás da corrente, não ir atrás daquilo que é momentâneo, mas também termos uma maior responsabilização, de facto, no trabalho que nos é exigido”, disse o presidente da Associação de Imprensa de Inspiração Cristã (AIC).

Paulo Ribeiro, que é também o chefe de redação do jornal ‘Alvorada’, da Lourinhã, acrescenta que se o jornalista tiver “melhor desenvolvido esta aptidão” saberá “construir outras pontes, ajudar a construir outras pontes, porque também é essa a missão do jornalismo”, defender a paz, o humanismo “e não defende a radicalização”.

Já para o diretor de Comunicação da Diocese de Setúbal “o destaque é a esperança”, e cita da mensagem um dos sonhos partilhados pelo Papa: “sonho com uma comunicação que saiba fazer de nós companheiros de viagem de tantos irmãos e irmãs nossos para, em tempos tão conturbados, reacender neles a esperança”.

“Acho que a principal mensagem é esta, procurar a esperança na comunicação. Nunca deixar de dar o que precisa ser dado, seja mais positivo, seja menos positivo, mas sempre com um olhar de esperança; Hoje em dia, conseguir comunicar com esperança é ser quase contra a natura e por isso é um dos maiores desafios da evangelização que existe”, desenvolveu Ricardo Perna.

Esta sexta-feira,  quando a Igreja Católica celebra a festa de São Francisco de Sales, padroeiro dos jornalistas, o Vaticano divulgou a mensagem do Papa Francisco para o Dia Mundial da Comunicações Sociais 2025, com o tema ‘Partilhai com mansidão a esperança que está nos vossos corações’.

Francisco escreve que, hoje em dia, “com demasiada frequência, a comunicação não gera esperança, mas sim medo e desespero, preconceitos e rancores, fanatismo e até ódio”, e salienta que “várias vezes” insistiu “na necessidade de ‘desarmar’ a comunicação, de a purificar da agressividade”.

“Acho que é um desafio bem difícil, até porque todo o mundo da comunicação e todo o mundo parece estar um bocadinho alimentado nisso, sustentado nisso, até as próprias ferramentas que nós usamos alimentam esse paradigma, aquilo que já gostamos e termos dificuldade em sermos confrontados com opiniões diferentes e de polarizar”, comentou a diretora do portal online ‘Ponto SJ’, dos Jesuítas em Portugal.

Rita Carvalho levo esta mensagem do Papa Francisco também para o âmbito da vida em geral, porque considra que “é preciso desarmar a comunicação nas famílias, entre os pais e os filhos, entre os ambientes de trabalho”, porque isso é muito presente na comunicação.

“Acho que é uma mensagem muito abrangente, acolho-a na comunicação porque vamos refletindo aquilo que a sociedade faz e podemos ser agentes nessa mudança. E acho que é preciso ser muito persistente e quebrar aqui um bocadinho o paradigma, mas acho que é uma mensagem que podemos levar para a nossa vida de todos os dias, um convite para todos”, desenvolveu.

“Tem que falar do que se passa, mas não deve, na minha opinião e na opinião dos jornalistas católicos, não deve ser corresponsável dessa crescente onda de desresponsabilização e de egoísmo que está a imperar a nossa sociedade”, acrescentou Paulo Ribeiro.

O Dia Mundial das Comunicações Sociais é a única celebração do género estabelecida pelo Concílio Vaticano II, no decreto ‘Inter Mirifica’, em 1963; assinala-se, em cada ano, no domingo antes do Pentecostes.

CB/OC

“Neste nosso tempo marcado pela desinformação e pela polarização, no qual alguns centros de poder controlam uma grande massa de dados e de informações sem precedentes, dirijo-me a vós consciente do quanto, hoje mais do que nunca, é necessário o vosso trabalho de jornalistas e comunicadores. Precisamos do vosso compromisso corajoso em colocar no centro da comunicação a responsabilidade pessoal e coletiva para com o próximo.” – Papa Francisco, mensagem 52.º DMCS

Para Juliana Batista, da revista Fátima Missionária, mais do que coragem, “é preciso não ir na onda, é preciso, às vezes, não fazer aquele tipo de conteúdo que distinga as pessoas, que cria divisões, que cria muros”, e tentar sempre ouvir todas as partes.

“Ao ouvir todas as partes, as pessoas possam compreender todos os lados que podem estar envolvidos e confirmar sempre as coisas para saber se aquilo que está a dizer, se é correto ou não é correto, se faz sentido ou não faz sentido”, acrescentou a jornalista da revista do Instituto Missionário da Consolata.

O jornal ‘Alvorada’, da Lourinhã, vai ao encontro das pessoas e faz o “acompanhamento de todos os setores da sociedade do concelho”, dando perspetivas positivas daquilo que é feito, “porque parece que, hoje em dia, só o que é negativo é que é notícia”.

“O objetivo do jornalismo, é alertar para aquilo que se faz, não escondemos a realidade, mas também não podemos tapar, antes pelo contrário, devemos incentivar, ao nível do associativismo, ao nível da cultura, ao nível da política local, o debate construtivo daquilo que é a construção da cidade, a construção do coletivo. É esse o papel do Jornal Alvorada, sem, obviamente, deixar de dar um particular destaque à mensagem que a Igreja nos convoca para podermos estar ao serviço dos outros”, desenvolveu Pauulo Ribeiro, chefe de redação do jornal de inspiração cristã “há mais de 60 anos” na região Oeste.

Na Diocese de Setúbal, realça o diretor de comunicação, a intenção e estratégia desta área “passa por muito mostrar o que é que a diocese faz e de forma que vive”, que são formas “muito dispares”, desde o bispo que tem a sua agenda, “como as paróquias têm as suas agendas, como os fiéis da paróquia, como as outras pessoas que são tocadas pelas paróquias ou pelas histórias e de alguma forma mostram a sua história”.

“O importante aqui é que as pessoas compreendam e entendam o que é que a Diocese está a viver e procurem tomar parte nessa vida da Diocese, é também uma forma de levarmos as pessoas a tentar participar na vida dessa Diocese, crentes ou não crentes”, salientou Ricardo Perna.

De 24 a 26 de janeiro, milhares de jornalistas e comunicadores peregrinos vão estar em Roma para atravessar a Porta Santa, encontrar-se com o Papa e participar em várias iniciativas religiosas e culturais.

Cerca de 40 comunicadores de Portugal – jornalistas, colaboradores de jornais, de rádios e de gabinetes de imprensa, e responsáveis pelo setor da comunicação na Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) – vão participar neste programa.

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