Igreja/Comunicação: Padre Miguel Neto desenvolveu investigação sobre «competências digitais», e usou como caso de estudo o «clérigo português» (c/vídeo)

«Nós, presbíteros devíamos preocupar em que a evangelização não acontecesse dois dias por semana, sábado e domingo», afirma o sacerdote, especialista em comunicação

Lisboa, 02 jul 2025 (Ecclesia) – O padre Miguel Neto está a preparar a defesa da tese de doutoramento em comunicação, centrada no clero português e “competências digitais”, e afirma que os presbíteros devem se preocupar “por haver um contínuo de comunicação e de evangelização”.

“Do ponto de vista de capacitação digital, tal como todas as outras pessoas, nota-se uma falha de literacia mediática na questão dos conteúdos que são publicados, a forma como são publicados. Há ainda uma dificuldade em perceber que o ambiente digital deve ser espelho daquilo que acontece no ambiente físico, é tudo a mesma vida”, disse o sacerdote da Diocese do Algarve, em entrevista à Agência ECCLESIA.

O especialista em comunicação apresenta como “exemplo clássico” o facto de alguns sacerdotes terem “mais seguidores do que as próprias páginas das paróquias” nas redes sociais, e explica que “têm dificuldade” em perceber que, “se calhar, a comunicação através daquilo que é o caráter institucional da Igreja, ou aquilo que é a vivência da comunidade, é isso que aproxima de Cristo”.

“Há essa dificuldade de perceber páginas pessoais, páginas paroquiais, a questão também é o tipo de conteúdo da mensagem, que mensagem transmitimos, que utilização fazer. Depois há outras coisas mais radicais que têm a ver com alguma questão de discurso de ódio, divergências do próprio bispo, da própria Santa Sé, existem muitos casos desses. Ir para o ambiente virtual dizendo aquilo que não diz no ambiente físico”, desenvolveu.

O padre Miguel Neto relembrou que “o ambiente virtual é real”, na medida em que quando se diz algo no virtual disputam na “sentimentos, sejam negativos ou positivos” nas pessoas.

“É curioso que noto que há casos que têm uma certa relutância em transmitir uma homilia, ao nível de conteúdos no ambiente digital, filmar uma homilia, mas, depois, no ambiente digital como que estão ‘sem travões’, e a homilia tem muito menos impacto que qualquer rede social”, acrescentou.

O padre Miguel Neto já concluiu a investigação do seu doutoramento em comunicação, está a preparar a defesa pública da tese, com o tema ‘Competências digitais para uma vivência judaico-cristã digital – O caso do clero português’.

O sacerdote fez dois inquéritos, o primeiro em 2021, relacionado com a “utilização do ambiente digital no período pandémico, pós-pandémico”, e outro em 2023, um estudo semelhante para perceber “se havia uma continuidade, se havia um aumento do conhecimento, se tinha sido um motor de arranque ou se foi só apenas uma bolha”.

“É importante que a utilização tenha aumentado. Significa que se estão lá os sacerdotes, estão a ocupar um espaço que estaria vazio. No entanto, há duas faixas etárias, os sacerdotes mais novos e os sacerdotes mais velhos, anciãos, que olham com alguma dificuldade para essa utilização.”

Segundo o especialista em comunicação, “em alguns setores há uma utilização grande”, e adianta que do ponto de vista técnico tem existido “algum conhecimento”, enquanto do ponto de vista dos conteúdos, da comunicação, “literacia mediática, em muitos casos, existem algumas dificuldades, como existem em todos”.

“Proporcionalmente, seria muito bom que a questão da ausência da literacia e mediática só acontecesse no clero português, não acontece em todos, é transversal; nós temos problemas de interpretação de textos escritos, um exemplo, o discurso da Lídia Jorge, no 10 de junho, houve extrapolações e muitas vezes falta de interpretação do que estava lá escrito”, explicou o padre Miguel Neto, no Programa ECCLESIA, transmitido hoje na RTP2.

PR/CB/OC

 

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