Brasileiros estão no centro das atenções numa iniciativa que tem como ponto alto a peregrinação a Fátima
O apelo à fraternidade e à não discriminação, lançado pelo Papa Bento XVI na sua Mensagem para o Dia Mundial do Migrante e Refugiado deste ano de 2009, foi acolhido como lema da 37ª Semana Nacional das Migrações, celebrada de 9 a 16 de Agosto e que tem o seu ponto alto na Peregrinação do Migrante e Refugiado ao Santuário de Fátima, nos dias 12 e 13.
O director da Obra Católica Portuguesa de Migrações, Frei Francisco Sales, explica à Agência ECCLESIA que “este ano quisemos colocar no centro a Comunidade Brasileira residente em Portugal, como forma de valorizar esta que é a maior comunidade imigrante em Portugal”. “Por isso, convidámos a presidir à Peregrinação de 12 e 13 de Agosto, D. Alessandro Ruffinoni, Bispo delegado da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, para a pastoral dos brasileiros que vivem no exterior do Brasil”, precisa.
Em declarações à sala de imprensa do Santuário de Fátima, D. Ruffinoni diz que o migrante não pode ser visto como problema.
“A realidade da mobilidade humana constitui o maior movimento de pessoas de todos os tempos. Não há lei que possa deter este fenómeno que é antigo quanto a humanidade. O migrante não pode ser visto como problema nem pela Igreja, nem pelo Estado”, aponta.
Naquela que será a segunda visita a Portugal e também a Fátima, o bispo auxiliar da Arquidiocese de Porto Alegre, fala sobre o convite para presidir a esta peregrinação e anuncia as intenções especiais de oração que trará como peregrino neste santuário. “A minha vida e o meu trabalho como sacerdote foi sempre neste carisma de trabalhar no mundo das migrações. Como Bispo recebi da CNBB a tarefa de facilitar a presença de sacerdotes brasileiros para acompanhar as comunidades brasileiras espalhadas no mundo (estima-se que haja 4 milhões de brasileiros no mundo)”, diz este responsável.
Para D. Ruffinoni, “na Igreja ninguém é estrangeiro. Ela é como uma mãe que acolhe, estima e valoriza a todos, porque todos são seus filhos e filhas”.
O tema das migrações tem vindo a merecer atenção continuada por parte da Igreja Católica, com instituições presentes no Conselho Consultivo para os Assuntos da Imigração (COCAI). O Governo apresentou a este Conselho o balanço anual do segundo ano de execução do Plano para a Integração dos Imigrantes (PII), falando numa execução de 81%. O Plano para a Integração dos Imigrantes, criado através da Resolução do Conselho de Ministros n.º 63-A/2007, de 3 de Maio, quer dar resposta à necessidade de um plano global, integrado e abrangente, que sistematizasse os objectivos e compromissos do Estado no acolhimento e integração dos imigrantes que procuram Portugal como país de destino.
Este mesmo Governo, contudo, decidiu reduzir o limite do sistema de quotas, diminuindo de 8500 para 3800 entradas de imigrantes em Portugal. Uma medida proteccionista, explicada pelo governo como consequência da crise e falta de emprego.
Consagrado na lei portuguesa, o sistema implementado na União Europeia visa a entrada de imigrantes de acordo com a disponibilidade no mercado de trabalho. Os imigrantes aparecem, neste contexto, como o «bode expiatório» em situações de maior precariedade.
Recentemente a Igreja Católica em Portugal veio a público pedir um maior compromisso no combate ao tráfico de pessoas, considerando que este é um “flagelo” que atinge o nosso território “enquanto país de trânsito e destino”. No documento conclusivo do encontro nacional dos secretariados da pastoral da mobilidade humana e capelanias de imigrantes, que decorreu em Lamego de 6 a 10 de Julho, os participantes consideram que “é necessário pressionar os decisores políticos para que se crie legislação que preencha o vazio legal nesta matéria”.
O missionário Scalabriniano Pe. Rui Pedro escreve, no texto que a Agência ECCLESIA publica no seu dossier desta semana, que “a Igreja em Portugal e na Europa, continua muito empenhada a nível da cidadania e direitos humanos dos emigrantes, imigrantes, refugiados e outras categorias de itinerantes (povo cigano e gentes do mar)”. “Tem feito ouvir, em diferenciados fóruns e de vários modos a sua voz profética face às actuais legislações europeias minimalistas e viciadas pelo medo e pela segurança”, acrescenta.
Maria do Rosário Farmhouse, Alta Comissária para a Imigração e o Diálogo Intercultural, refere em entrevista que “Portugal tem tentado desenhar alguns mecanismos de controlo, sem deixar, ao mesmo tempo, de ser um Estado humanista, que se preocupa com as pessoas. Por isso, o acesso à saúde e à educação é possível para todos, independentemente da sua situação ser regular ou não”.
Fátima
A Peregrinação Internacional de Agosto terá como tema: “Tudo o que é justo e puro, tudo o que é amável e de boa reputação é o que deveis ter no pensamento” (Fil 4, 8)
Programa
Dia 12
07:30 – Via-Sacra, aos Valinhos, partindo da Capelinha e terminando na Capela do Calvário Húngaro, com a Eucaristia
Missas, em português: 07:30, 09:00 e 12:30, na Basílica; 11:00, na igreja da Santíssima Trindade. Missas em línguas estrangeiras, na Capelinha
16:30 – Missa, no Altar do Recinto, com a participação dos doentes, e procissão eucarística
18:30 – Início oficial da peregrinação, na Capelinha
21:30 – Bênção de velas, Rosário, na Capelinha, e procissão de velas
22:30 – Missa internacional, no Altar do Recinto
Dia 13
Noite de Vigília
00:00 às 02:00 – Adoração ao Santíssimo Sacramento
02:00 às 03:30 – Via-sacra
03:30 às 04:30 – Celebração Mariana
04:30 às 05:30 – Missa
05:30 às 07:00 – Adoração com Laudes do Santíssimo Sacramento
07:00 – Procissão Eucarística
09:00 – Rosário, na Capelinha
10:00 – Procissão, Missa internacional, bênção dos doentes, consagração e adeus.