Igreja Católica empenhada na construção de uma «sociedade mais amiga da família»

Diretor do Departamento Nacional da Pastoral da Família, Luís Lopes, defende a necessidade de encontrar novos modelos de desenvolvimento e estabilidade social

Agência ECCLESIA (AE) – Neste dia internacional da Família e numa semana dedicada à vida, há uma mobilização particular do vosso departamento perante um fenómeno de indiferença, até de algum combate aos valores da vida, que vai colocando em risco a própria vida familiar?

Luís Lopes (LL) – Sim, de facto há condições adversas e várias vezes temos falado sobre isso, mas também há que realçar os aspetos positivos, ou seja, a caminhada. Este ano estamos também a celebrar os 20 anos do Ano Internacional da Família, que foi em 1994.

E olhando para o passado e avaliando o presente, nós temos, como dizia a encíclica “Familiaris Consortio”, sombras e luzes.

Temos dificuldades que também já referiu, do emprego, da mobilidade dos jovens, novas experiências, novas culturas, novos desafios, as questões fraturantes, mas também temos do ponto de vista das coisas estruturantes, ou seja, temos um maior reconhecimento do papel da família na sociedade.

Muito desta crise não seria possível ultrapassar se as famílias não tivessem respondido da forma extraordinária como estão a fazer, de se ajudarem, entreajudarem, de terem muita capacidade de acolher situações muito difíceis, mas de facto temos de olhar para o futuro.

E o tema desta semana da vida é “Gerar vida, construir futuro”, e nós temos essa esperança, não só por aquilo que se está a passar em termos da Igreja Católica, nomeadamente com o anúncio dos Sínodos.

Portanto já termos aí a perspetiva de irmos trabalhando esta questão da pastoral da família, de termos sinais muito positivos da parte dos secretariados, dos movimentos ligados à Família, nomeadamente da Conferência Episcopal.

E os bispos estão cada vez mais a dar apoio a todas as iniciativas, que são imensas que estão a decorrer esta semana, para valorizar a vida, seja na questão da bênção das grávidas ou da preparação para o batismo ou de celebrar os 10 anos, 25 anos, 50 anos de casamento.

Também nós nesta semana propomos questões concretas, que não são só a oração do terço ou em família mas também alguns outros gestos concretos que fortaleçam a vida familiar, porque nós acreditamos que a vida familiar é a maior riqueza que a humanidade tem, que são as pessoas.

 

AE – Podemos dizer que as dificuldades do desemprego, da austeridade, de toda esta complexidade difícil que as famílias tiveram que enfrentar, poderão ter também trazido ao de cima o valor da família?

LL – Eu creio que isso se vai notando em muitos comentadores, analistas, investigadores, também a propósito da questão do Sínodo. Estão a acontecer muitas jornadas científicas, promovidas pelas universidades, por centros que se dedicam a estas questões da família.

E eu creio que vai havendo uma reflexão de que alguma coisa tem de ser feita para guardar este modelo que a Igreja propõe, do casamento monogâmico, heterossexual, de aliança eterna, geradora de filhos, também dessa riqueza da aliança entre gerações, dos netos conviverem com os avós.

 

AE – Relações mais estáveis e duradouras…

LL – Sim, essa estabilidade porque estamos num clima de muita mudança, muda-se de carro, de emprego, de país, muda-se tudo mas alguma coisa tem de ficar estável para que haja o fio condutor da vida.

E a esse nível a Igreja tem uma história longuíssima, já passou por imensas crises e portanto esta crise que nós vivemos, sobretudo nas civilizações ocidentais, vai criar novos desafios e esses desafios com certeza vão ser ultrapassados com essa mobilização e reflexão, e também com confiança no Espírito Santo. Ou seja, nós temos essa assistência para nos dar outra forma de viver.

Várias vezes eu, a Fátima e a nossa equipa temos defendido isso, que realmente é preciso olharmos para construirmos uma sociedade mais amiga da Família, que não seja tão hostil a este modelo de Família que nós apresentamos.

E se calhar temos de enveredar por uma pastoral da família mais profunda, onde possamos começar a trabalhar com as gerações mais novas, com as famílias, a ajudar para que, de facto, esta preparação para viver a família seja iniciada mais cedo.

 

AE – Vivemos neste mundo ocidental, na nossa Europa, particularmente em Portugal, um verdadeiro inverno demográfico…

LL – Lá voltamos outra vez ao ambiente. Há ambientes favoráveis a isso, um dos exemplos que podemos focar é como mulheres num ambiente, por exemplo rural, estão mais disponíveis para terem filhos. Até porque a economia rural precisa de mão-de-obra e portanto isso é uma necessidade.

E depois as culturas mais urbanas, mais sofisticadas ou mais artificiais, digitais, virtuais, etc., perderam essa noção porque estão mais focadas noutras comodidades, na aquisição de bens, de serviços, etc., e não tanto na criação desse bem riquíssimo que são as crianças e que é a família.

O exemplo das mulheres africanas, que têm imensos filhos na sua terra e depois quando imigram para a Europa reduzem drasticamente o número de filhos.

Temos de olhar para outros modelos de desenvolvimento, onde seja favorável haver condições, primeiro para os jovens casarem mais cedo e, ao mesmo tempo, terem mais estabilidade para gerarem a sua família e serem mais fecundos para a sociedade.

Vejo cada vez mais as pessoas atentas a estes problemas e com vontade para encontrar soluções, quer das instâncias do Estado, quer das instâncias das ONG, da sociedade civil, quer da própria Igreja.

 

AE – A questão do valorizar a vida, e a vida que nasce, não pode levar ao esquecimento dos nossos idosos, possuidores de um grande património de instrução dos mais novos.

LL – A Igreja sempre foi a favor da vida e contra o aborto e a eutanásia, mas de facto há fenómenos muito subtis que condicionam isso, que de alguma forma criam essa mentalidade contra a vida.

E na parte dos idosos, estamos a ver como reduzindo pensões ou retirando subsídios ou apoios, as pessoas deixam de ir aos centros de saúde e de alguma forma estamos a gerar quase uma eutanásia disfarçada.

E não sei se mais tarde estas novas gerações, tão focadas na inovação, não vão compreender a riqueza da tradição e dessa sabedoria.

A Igreja tem chamado a atenção para isso e continuará a lutar e a chamar a atenção para isso, porque quem não ama o passado também não é capaz de amar o futuro.

Nós temos de perceber a importância das raízes para depois a árvore dar as suas flores e os seus frutos.

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Agência ECCLESIA

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