Igreja Católica: Cisma é «risco grande», diz religioso português

Frei Fernando Ventura e teóloga Teresa Toldy participaram no debate «Um novo Papa, uma nova Igreja?»

Lisboa, 27 mar 2013 (Ecclesia) – A comunhão dentro do catolicismo está ameaçada, considera o frei Fernando Ventura, que comentou o Conclave e os primeiros dias do pontificado do Papa para uma das principais estações de televisão.

“O risco é grande de podermos viver um cisma dentro da Igreja”, afirmou o sacerdote português num encontro que decorreu esta terça-feira em Lisboa, organizado por três jornalistas que acompanharam no Vaticano a eleição de Francisco.

No seguimento da declaração o biblista explicou que se sente “muito mais desconfortável a falar com algumas realidades de reflexão teológica dentro da Igreja Católica do que com outras experiências religiosas”, como o Judaísmo e o Islão.

No encontro intitulado ‘Um novo Papa, uma nova Igreja?’, o religioso Franciscano Capuchinho sublinhou que o novo Papa pode “furar as barreiras dos campos mais ou menos mafiosos instalados à volta do trono de Pedro”.

Francisco “vai abrir a porta à impossibilidade de a seguir a ele vir alguém que volte aos fumos imperiais, às borlas, às rendas e aos bordados, assim como à exterioridade bacoca e vazia”, que estava a “infetar” a Igreja, apontou.

Com o Papa argentino o catolicismo passa “da lógica do poder à lógica do serviço”: “Do ‘eu sei’ ao ‘nós procuramos respostas’, do ‘eu mando’ ao ‘nós somos circularidade de fraternidade em ação”, regressando assim às “intuições” do Concílio Vaticano II (1962-1965).

A teóloga Teresa Toldy destacou em Francisco “o facto de se referir sempre a si próprio como bispo de Roma”, o que é “muito importante em termos teológicos”.

A “preocupação de construir pontes com membros de outras confissões cristãs e religiões, bem como não crentes”, e a constante “referência aos fracos” são também aspetos positivos apontados pela investigadora do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra.

Depois de elogiar o costume de “cumprimentar as mulheres com um beijo”, algo “nunca visto”, a docente apontou “algumas reticências” quanto ao novo Papa, a começar por ser, “segundo dizem, um conservador no que diz respeito à moral sexual”.

“Ser voz profética do lado dos que sofrem, não só com uma solidariedade consoladora mas com voz crítica, lúcida e informada”, é uma das prioridades que a professora gostaria de ver assumidos por Francisco, a par do acolhimento das “experiências das formas diferentes que o catolicismo assume pelo mundo”.

Teresa Toldy fez votos para que o Papa abra “espaço para o debate” com “as vozes das filhas e filhos críticos da Igreja”, sobretudo pessoas que “sofrem formas de exclusão” dentro do catolicismo, como os “divorciados recasados, padres casados, homossexuais, mulheres que desejam participar mais nas decisões” ou que aspiram a “ser ordenadas”.

Continuar a aplicação do Concílio Vaticano II (1962-1965) numa ótica “progressiva, e não regressiva, como aconteceu nos últimos 30 anos”, “renovar a Cúria” e “pôr cobro à pedofilia”, constituem igualmente “tarefas” que, para a teóloga, se impõem a Francisco.

A investigadora gostaria de ver um “novo concílio”, embora não acredite que seja no atual pontificado, e sonha com a possibilidade da eleição de “uma papa”.

O encontro contou igualmente com as intervenções de Isabel Galriça Neto, médica e deputada do CDS-PP, e padre Alberto Brito, superior dos Jesuítas em Portugal.

RJM

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