Igreja: Catequese deve estar ao serviço do «crescimento na fé», ultrapassando visão ligada à preparação de festas

Responsáveis da de Portugal, Espanha e Itália partilham desafios, projetos e caminhos de futuro

Foto: Agência ECCLESIA/MC

Lisboa, 07 mar 2023 (Ecclesia) – Responsáveis pelo setor da Catequese nas Conferências Episcopais de Portugal, de Espanha e da Itália terminaram hoje o segundo encontro de partilha de projetos e desafios, de trabalho e caminho conjunto, realizado em Alfragide e Lisboa, desde domingo.

“Estamos num processo de secularização que atinge todos os ambientes e também o sul da Europa. Além disso ainda há bastante religiosidade, quer nas festas religiosas, até na prática dos sacramentos ligados aos processos de crescimento na fé, que, às vezes, são mais festas religiosas do que são etapas de crescimento na fé, como é a Primeira Comunhão, o Crisma”, explicou D. António Moiteiro, bispo de Aveiro, em declarações à Agência ECCLESIA.

O presidente da Comissão Episcopal da Educação Cristã e Doutrina da Fé (CEECDF), dos bispos portugueses, acrescenta que estes problemas “são muito comuns a estes países”, e a sua reflexão está na forma como podem atualizar o Diretório para a Catequese e “pôr em prática nesta realidade”, bem como “uma reflexão sobre o ministério do catequista”:

O responsável observa que, “muitas vezes”, a catequese é entendida como “um processo de preparação para sacramentos, festas religiosas”, mas catequese é “crescer na fé” onde as etapas sacramentais se incluem, por isso, mas querem que “o processo catequético levasse a uma verdadeira iniciação cristã”.

“A iniciação cristã é o caminho do ser cristão e isso é o que queríamos atualizar e o trabalho que temos feito na Comissão Episcopal é nesse sentido, a publicação do ‘Itinerário à vida cristã’, o ‘ser catequista’. O que temos feito é este processo alargado em que se juntam várias componentes e dimensões da fé para que possamos ajudar também as pessoas a crescer e a identificarem-se como cristãos”, desenvolveu D. António Moiteiro.

Já o responsável do Setor para o Catecumenato da Conferência Episcopal Italiana partilhou que “todos os anos mais de mil pessoas pedem para ser batizadas nas várias regiões” de Itália, e acredita que “vai crescer” em todos os países europeus de antiga tradição cristã, salientando que hoje as pessoas não são “automaticamente cristãos”.

“Acredito que o ponto de partida principal é escutar, deixar que as pessoas perguntem e peçam, digam quais são as coisas que afligem a vida, o sentido da vida. Eu acredito que dali podem nascer itinerários muito interessantes”, salientou o padre Jourdan Pinheiro à Agência ECCLESIA.

O presidente da CEECC – Comissão Episcopal da Evangelização, Catequese e Catecumenado –, na Espanha, sublinha por sua vez que os problemas comuns “têm a ver com a urgência de evangelizar”, experimentaram como se “quebraram em muitos âmbitos a transmissão da fé”, por muitos fatores que encontram “num contexto de secularização”.

“A catequese ministrada nas paróquias há duas décadas é insuficiente, por isso a urgência dos últimos Papas chamam-nos a pôr em exercício novos métodos, novo ardor, novo entusiamo na tarefa catequética”, explicou D. José Rico Pavés

A partir do novo ‘Diretório para Catequese’, o bispo espanhol de Asidonia-Jerez destacou a importância de recuperar uma compreensão mais global da catequese, “que ajude a formar cristãos”, que supere a relação com os sacramentos, “para que incorporem mais a Igreja, e que não se assemelhe ao ensino escolar”.

O teólogo Eduardo Borges de Pinho foi convidado para apresentar a reflexão ‘O Ministério do catequista e as esperanças e desafios que coloca à Igreja em caminho sinodal’, afirmando que se trata “de um tempo oportuno para ir ao mais fundo da espiritualidade cristã, de perguntar de novo pela fundamental razão do ser da Igreja”.

“Só numa vivência eclesial descentrada de si mesma, desperta para acolher e descobrir criativamente novos lugares e formas de evangelização, é que os ministérios pastorais na sua globalidade encontram os critérios adequados de avaliação do seu sentido e da sua indispensável renovação”, disse o especialista, citado pelo portal ‘Educris’, do Secretariado Nacional da Educação Cristã (SNEC), numa nota enviada à Agência ECCLESIA.

Sobre estes encontros do setor da catequese dos países do sul da Europa, o padre Jourdan Pinheiro destacou a importância de se encontrarem porque percebem “a riqueza comum a todos, cada um tem alguma coisa para partilhar”, não se encontram “para dar aulas mas para aprender a escutar, a rever os caminhos”, as nossas escolhas e fazer escolhas comuns.

“Estes encontros ajudam-nos sempre a comprovar que os problemas que temos nos nossos sítios são comuns e que se nos unimos podemos encontrar de forma mais eficaz soluções também comuns”, acrescentou D. José Rico Pavés.

Para além dos três entrevistados, participam neste II Encontro das Comissões Episcopais da Catequese dos países do sul da Europa, realizada entre 5 e 7 de março, de Portugal, Fernando Moita, diretor do SNEC, e a irmã Maria Arminda Faustino, responsável nacional pela catequese; de Espanha, o padre Francisco Romero Galván, diretor do Secretariado da CEECC, e María Molina, responsável pelo Departamento das publicações.

CB/OC

 

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