Igreja: Beato Paulo VI, «cristão corajoso» e «timoneiro do Concílio» Vaticano II

Missa no final do Sínodo dos Bispos encerrou «grande experiência», com atenção às «feridas» da humanidade

Cidade do Vaticano, 19 out 2014 (Ecclesia) – O Papa Francisco disse hoje no Vaticano que o Beato Paulo VI (1897-1978) foi um cristão “corajoso” que soube liderar a Igreja Católica no seu tempo perante um mundo em mudança.

“A respeito deste grande Papa, deste cristão corajoso, deste apóstolo incansável, diante de Deus hoje só podemos dizer uma palavra tão simples como sincera e importante: obrigado! Obrigado, nosso querido e amado Papa Paulo VI”, declarou, na homilia da Missa, com rito de beatificação, provocando uma salva de palmas das dezenas de milhares de pessoas reunidas na Praça de São Pedro.

Francisco, que tem manifestado em diversas ocasiões a sua admiração pelo Papa que beatificou esta manhã, agradeceu-lhe pelo seu “humilde e profético testemunho de amor a Cristo e à sua Igreja”.

A intervenção citou o diário pessoal de Paulo VI, “o grande timoneiro do Concílio”, depois do encerramento da assembleia conciliar, em 1965, para mostrar a “humildade” do Papa italiano.

“Nesta humildade, resplandece a grandeza do Beato Paulo VI, que soube, quando se perfilava uma sociedade secularizada e hostil, reger com clarividente sabedoria – e às vezes em solidão – o leme da barca de Pedro, sem nunca perder a alegria e a confiança no Senhor”, prosseguiu.

A Missa, concelebrada pelo Papa emérito Bento XVI, assinala ainda o final da terceira assembleia geral extraordinária do Sínodo dos Bispos, um organismo consultivo instituído pelo próprio Paulo VI.

Francisco disse que as duas semanas de debate foram uma “grande experiência”, vivida com “verdadeira liberdade e humilde criatividade”, projetando o Sínodo ordinário dos Bispos em outubro de 2015.

“Foi uma grande experiência, na qual vivemos a sinodalidade e a colegialidade e sentimos a força do Espírito Santo que guia e renova sempre a Igreja, chamada a cuidar sem demora das feridas que sangram e a reacender a esperança para tantas pessoas sem esperança”, declarou.

"Semeamos e continuaremos a semear, com paciência e perseverança", disse ainda.

A homilia do Papa partiu do que este classificou como “uma das frases mais célebres de todo o Evangelho”: «Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus» (Mt 22, 21).

Francisco declarou que esta “frase irónica e genial” recorda que “só Deus é o Senhor do homem, e não há outro”.

“Esta é a novidade perene que é preciso redescobrir cada dia, vencendo o temor que muitas vezes sentimos perante as surpresas de Deus”, prosseguiu.

Neste sentido, o Papa sustentou que a ação divina leva a Igreja para “caminhos inesperados” que um cristão que vive o Evangelho é “a novidade de Deus, na Igreja e no mundo”.

“«Dar a Deus o que é de Deus» significa abrir-se à sua vontade e dedicar-lhe a nossa vida, cooperando para o seu Reino de misericórdia, amor e paz”, precisou.

Paulo VI foi alguém que “soube «dar a Deus o que é de Deus», dedicando toda a sua vida” a este dever, “amando” e “guiando” a Igreja.

Esta confiança, acrescentou o Papa Francisco, é a força dos cristãos, o “sal que dá sabor a todo o esforço humano contra o pessimismo predominante” que o mundo propõe, para “responder, com coragem, aos inúmeros desafios novos”.

“Aqui está a nossa esperança, porque a esperança em Deus não é uma fuga da realidade, não é um álibi: é restituir diligentemente a Deus aquilo que Lhe pertence”, sublinhou.

A beatificação ocorreu pouco depois do início da celebração, com a declaração oficial em latim, a que se seguiu a colocação das relíquias – um fragmento ensanguentado da roupa do novo beato, aquando do atentado em Manila (1970) – junto ao altar.

OC

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Agência ECCLESIA

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