21ª viagem internacional do pontificado tinha começado no Mianmar
Daca, 02 dez 2017 (Ecclesia) – O Papa Francisco encerrou hoje a sua visita ao Bangladesh, iniciada na quinta-feira, regressando ao Vaticano após vários gestos e intervenções dedicados ao diálogo inter-religioso e ao acolhimento dos refugiados ‘rohingya’.
Logo no seu primeiro discurso no Bangladesh, o pontífice chamou a atenção para a “grave crise” dos refugiados vindos de Mianmar, em particular do Estado de Rakhine.
“É necessário que a comunidade internacional implemente medidas resolutivas face a esta grave crise, não só trabalhando por resolver as questões políticas que levaram à massiva deslocação de pessoas, mas também prestando imediata assistência material ao Bangladesh no seu esforço por responder eficazmente às urgentes carências humanas”, disse, no Palácio Presidencial de Daca.
Após uma audiência privada com o presidente Abdul Hamid, Francisco elogiou a ajuda humanitária que o Bangladesh tem prestado à população que chega “em massa” do Mianmar e pediu maior ação da comunidade internacional.
“Nenhum de nós pode deixar de estar consciente da gravidade da situação, do custo imenso exigido de sofrimentos humanos e das precárias condições de vida de tantos dos nossos irmãos e irmãs, a maioria dos quais são mulheres e crianças amontoados nos campos de refugiados”, denunciou.
Esta sexta-feira, o Papa quis manifestar publicamente a sua solidariedade aos refugiados rohingya, pedindo “perdão” pelos que os perseguem e pela “indiferença” do mundo.
“A presença de Deus hoje também se chama rohingya”, disse, na primeira vez em que o pontífice usou a palavra para se referir à minoria muçulmana do território birmanês.
No final de um encontro inter-religioso pela paz em Daca, capital do Bangladesh, o Papa cumprimentou pessoalmente um grupo de 18 refugiados, de três famílias, aos quais disse que a sua tragédia “é muito dura e dolorosa”.
“Em nome de todos, os que vos perseguem, dos que vos fizeram mal, sobretudo pela indiferença do mundo, peço-vos perdão. Perdão”, disse, após ter saudado um a um os homens, mulheres e crianças que se deslocaram à sede da arquidiocese de Daca, acompanhados por responsáveis da Cáritas.
No encontro inter-religioso pela paz, o Papa apelou a um esforço comum das várias comunidades contra a intolerância e a corrupção, rejeitando “a tentação de fechar os olhos às necessidades dos pobres, dos refugiados, das minorias perseguidas e dos mais vulneráveis”.
O mesmo tema foi abordado quando o Papa se encontrou com os bispos católicos do Bangladesh, elogiando o trabalho desenvolvido pela Igreja na ajuda aos pobres e refugiados.
Pela primeira vez numa viagem internacional Francisco presidiu a uma Missa com ordenações sacerdotais.
A ordenação de 16 padres recorreu perante uma multidão de dezenas de milhares de pessoas, no parque Suhrawardy Udyan de Daca; a comunidade católica no país asiático é de 375 mil pessoas (0,24% da população).
No último dia de viagem, o Papa passou pela antiga igreja do Santo Rosário, construída pelos missionários portugueses em 1677, e visitou uma casa fundada por Santa Teresa de Calcutá no Bangladesh, onde se encontrou com crianças órfãs e com doentes acolhidos pela instituição.
Francisco foi o terceiro Papa a visitar o Bangladesh, onde estiveram Paulo VI (1970) e João Paulo II (1986).
Antes, o Papa tinha feito uma visita de quatro dias ao Mianmar, onde pediu respeito pelos direitos humanos e pela dignidade de todos os grupos étnicos.
Na sua conta na rede social Twitter, @pontifex, Francisco deixou uma mensagem de despedida: “Caros amigos de Mianmar e Bangladesh, obrigado pelo acolhimento! Invoco sobre vós as divinas bênçãos de harmonia e de paz”.
Esta foi a 21ª viagem internacional do atual pontificado; entre elas está a visita a Fátima, nos últimos dias 12 e 13 de maio.
OC