Colóquio evocou 70 anos de fundação do Movimento de Renovação da Arte Religiosa
Lisboa, 24 out 2022 (Ecclesia) – A Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, acolheu hoje o colóquio comemorativo dos 70 anos da fundação do MRAR – Movimento de Renovação da Arte Religiosa, evocando o legado dos seus responsáveis na transformação provomovida pelo Concílio Vaticano II.
D. Américo Aguiar, bispo auxiliar de Lisboa, deixou a sua “homenagem e gratidão” aos membros deste movimento, “homens e mulheres atentos aos sinais dos tempos”.
“Cada um na sua especialidade, na sua vocação, correspondeu”, acrescentou.
O responsável católico assumiu a necessidad de “fazer caminho” para sensibilizar o clero e as comunidades católicas nos campos da arte e da cultura.
João Luís Carrilho da Graça, autor da igreja de Santo António (1993-2008), em Portalegre, falou deste projeto, implantado no centro de um bairro degradado da periferia da cidade.
“Aderi completamente ao Vaticano II, enquanto conceito”, declarou o arquiteto, que gracejou com a preocupação da comunidade face ao que lhe parecia a construção de um “bunker”, que desapareceu após a dedicação da igreja, marcada por “um enorme entusiasmo popular”.
O primeiro painel contou com a intervenção de José Manuel Fernandes, arquiteto, o qual destacou a igreja do Sagrado Coração de Jesus (1962-1970), em Lisboa, de Nuno Teotónio Pereira e Nuno Portas, pela sua “grande capacidade de integração urbana”, percorrendo alguns edifícios de referência na arquitetura religiosa do século XX, em Portugal.
João Alves da Cunha, arquiteto e autor de ‘MRAR – Os Anos de Ouro da Arquitetura Religiosa em Portugal no século XX’ (Universidade Católica Editora), desejou que este encontro seja um “pontapé de saída” para novas investigações.
O especialista destacou a atualidade do movimento, que considerou precursor da “sinodalidade” que é proposta hoje à Igreja Católica.
João Norton de Matos, sacerdote jesuíta e arquiteto, falou de um reflexão que “está por fazer” sobre a relação entre a Igreja e a arte contemporânea.
“A eclesiologia do século XX, confirmado pelo Concílio Vaticano II, aponta, em termos de Liturgia, para o primado da assembleia”, destacou o religioso, “e os diferentes modos de organizar a assembleia determinam diferentes modos de ver a Igreja”.
O colóquio ‘Movimento de Renovação da Arte Religiosa. Memória e Atualidade’ foi aberto pelo administrador da Gulbenkian, Guilherme d’Oliveira Martins, que destacou a publicação da obra, em formato digital, com artigos de membros do MRAR, um movimento “extremamente amplo”.
O livro, publicado em formato eletrónico pelo Centro Nacional de Cultura e a revista Brotéria, dos Jesuítas, é organizado por João Alves da Cunha e tem introdução de João Norton.
Maria Calado, presidente do Centro Nacional de Cultura, considerou no início do segundo painel que evocação destes 70 anos de história era um “dever de memória” da instituição, chamada a “perpetuar” esta herança.
Ana Tostões, arquiteta e professora do Instituto Superior Técnico, apresentou vários exemplos de obras que simbolizam a “renovação religiosa” e a “renovação arquitetónica”, nos diversos continentes, em particular na reconstrução da Europa, no pós-guerra.
João Appleton, arquiteto responsável pelo projeto de reabilitação e restauro da igreja de Santa Isabel, em Lisboa, abordou esta intervenção, num espaço a que “era dado muito pouca atenção”.
O projeto foi distinguido em 2020 com o Prémio Maria Tereza e Vasco Vilalva, da Fundação a Gulbenkian.
A última intervenção do painel esteve a cargo do padre Ricardo Jacinto, do Secretariado de Liturgia e setor das novas igrejas do Patriarcado de Lisboa, que destacou a influência do MRAR, “por semelhança ou contraste”, na arquitetura religiosa.
O sacerdote evocou a reforma litúrgica promovida no Concílio Vaticano II, destacando a importância do espaço celebrativo, com três vetores: centralidade, axialidade e verticalidade.
OC
O início da década de 50 do século XX trouxe os primeiros sinais de mudança no panorama da arte religiosa em Portugal, identificáveis noutro entendimento do papel social da Igreja, requerendo novos tipos de espaços face a novas conceções litúrgicas.
Este dinamismo promoveu uma mudança no panorama da arte religiosa em Portugal, identificável num novo entendimento do papel social da Igreja, requerendo novos tipos de espaços face às conceções litúrgicas que viriam a ser consagradas no Concílio Vaticano II (1962-1965). O Movimento de Renovação da Arte Religiosa começou a sua ação apoiado numa ‘Exposição de Arquitetura Religiosa Contemporânea’, vindo a reunir, ao longo de década e meia, vários arquitetos e artistas plásticos em Portugal, como Nuno Teotónio Pereira, João de Almeida, Diogo Pimentel, Nuno Portas, Luís Cunha, Erich Corsepius, Madalena Cabral, Formosinho Sanchez, Manuel Costa Cabral, Eduardo Nery e Jorge Vieira, entre outros. O leque de interesses do movimento acabaria por alargar-se ao campo da música sacra, ourivesaria e paramentaria, entre outros, tendo atuada durante cerca de década e meia. |