Igreja: Ansiedade e confiança antecedem ordenação sacerdotal

Sacerdote ordenado há mais de 20 anos e seminaristas que vão ser padres dentro de algumas horas cruzam expectativas e experiências

Lisboa, 01 jul 2011 (Ecclesia) – Ansiedade, expectativa, confiança, humildade e abertura ao inesperado são alguns dos sentimentos e atitudes de três dos sete seminaristas das dioceses de Lisboa e Guarda que vão ser ordenados padres nas próximas horas.

“Há a tendência, que eu sinto particularmente, de pensar que devia estar mais bem preparado”, admite Fernando Escola, que este sábado recebe em Lisboa, no mosteiro dos Jerónimos, a ordenação sacerdotal pela imposição das mãos do cardeal-patriarca, D. José Policarpo.

Em entrevista ao programa da ECCLESIA na Antena 1 que vai ser transmitido este domingo às 06h00, e mais tarde disponibilizado na internet, o diácono de 24 anos diz confiar na ação divina: “O resultado desta missão não depende apenas das minhas capacidades, mas do Espírito de Deus”.

Rafael Neves, de 25 anos, também se sente inquieto: “Estou a viver estes dias com a ansiedade natural de quem está prestes a abraçar um enorme desafio, que nós não conseguirmos abarcar totalmente”, reconhece o diácono que será ordenado no domingo pelo bispo da Guarda, D. Manuel Felício.

O seminarista fã de futebol e adepto do Benfica recordou ao jornal ‘Notícias da Covilhã’ que o seu “encontro com Deus” aconteceu “muito cedo”, enquadrado pela família, e o discernimento vocacional foi pontuado por “dúvidas e interrogações” que “desempenharam um papel importante” na decisão.

“Não fui eu que optei, foi Ele [Deus] que me fez optar”, sublinha por seu lado João Marçalo, de 25 anos, que também vai receber o segundo grau do sacramento da Ordem este domingo, na catedral da Guarda.

O diácono apreciador de montanhismo diz acreditar, “sem qualquer tipo de presunção”, que pode ajudar as pessoas “a viverem a fé com uma alegria e uma força libertadora e sanante”.

A rotina das celebrações que se repetem todos os dias é pontuada pelo inesperado: “Na base do ser padre está a disponibilidade para aquilo que o Senhor quiser fazer conosco”, assume Fernando Escola.

Saber adaptar-se é também uma exigência: “Muito da vida do padre passa por coisas para as quais não nos preparámos”, como tarefas de “coordenação”, “contabilidade”, “construção de igrejas”, “gestão de centros sociais”, “liderança” e “gestão de conflitos”, assinala o cónego Daniel Henriques, antigo formador no seminário.

Fernando Escola é o mais novo dos cinco diáconos do Patriarcado de Lisboa que vai ser ordenado, tendo precisado de uma autorização especial do Vaticano, já que o Direito Canónico exige como mínimo os 25 anos de idade para a ordenação presbiteral.

“Os poucos anos de vida não são impedimento para seres um grande sacerdote”, diz-lhe o padre Daniel na conversa que pode ser ouvida no programa de rádio da ECCLESIA.

O atual pároco de Algés e Cruz Quebrada, concelho de Oeiras e diocese de Lisboa, considera que “o mais difícil” é a “fidelidade às pequeninas coisas” do quotidiano, como o cuidado diário com a oração ou o acompanhamento dos pobres, excluídos e famílias.

Ser sacerdote não é uma ocupação provisória mas um estado permanente, acentua o cónego Daniel Henriques: “A palavra ‘padre’ significa ‘pai’; e ninguém olha o ser pai ou mãe como uma profissão”.

“Não representamos Cristo se andarmos a fazer de conta que somos o que não somos. Ou se é ou não se é”, frisa o pároco, para quem “o grande perigo” da vida sacerdotal é levar “uma vida dupla”.

PRE/RM

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