«Os cidadãos precisam de assumir um papel ativo na tomada de decisões políticas», defende Leão XIV, em encontro com líderes religiosos, especialistas em clima, representantes da sociedade civil e instituições internacionais

Roma, 01 out 2025 (Ecclesia) – O Papa apelou hoje à pressão dos cidadãos sobre os decisores políticos, para que assumam o combate às alterações climáticas como uma prioridade, alertando para o impacto da crise ambiental sobre as populações mais desprotegidas.
“Espero que as próximas cimeiras internacionais das Nações Unidas – a Conferência sobre as Alterações Climáticas de 2025 (COP 30), a 53.ª Sessão Plenária do Comité para a Segurança Alimentar Mundial e a Conferência sobre a Água de 2026 – escutem o grito da Terra e o grito dos pobres, das famílias, dos povos indígenas, dos migrantes forçados e dos crentes em todo o mundo”, disse, na abertura da Conferência internacional ‘Raising Hope for Climate Justice’ (Gerando Esperança pela Justiça Climática), que decorre até sexta-feira na residência pontifícia de Castel Gandolfo, nos arredores de Roma.
A Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025 (COP30) vai decorrer entre os dias 10 e 21 de novembro, na cidade brasileira de Belém, no Pará.
“Todos na sociedade, por meio de organizações não governamentais e grupos de defesa, devem pressionar os governos a desenvolver e implementar regulamentos, procedimentos e controlos mais rigorosos. Os cidadãos precisam de assumir um papel ativo na tomada de decisões políticas a nível nacional, regional e local”, sustentou Leão XIV.
Falando perante centenas de pessoas reunidas no Centro Mariápolis de Castel Gandolfo, Leão XIV evocou o 10.º aniversário da encíclica ecológica e social ‘Laudato Si’, do Papa Francisco, sublinhando que “não há espaço para indiferença ou resignação”.
“As preocupações e recomendações do Papa Francisco têm sido apreciadas e aceites não apenas pelos católicos, mas também por muitas pessoas fora da Igreja que se sentem compreendidas, representadas e apoiadas neste momento específico da história”, reconheceu o pontífice.
Leão XIV sublinhou a atualidade da encíclica, que identificam desafios de natureza social e política, “mas, acima de tudo, de natureza espiritual: exigem conversão”.
“Além de divulgar a mensagem da Encíclica, agora é mais importante do que nunca voltar ao coração. Na Escritura, o coração não é apenas o centro dos sentimentos e das emoções, mas o locus da liberdade. Embora o coração inclua a razão, ele a transcende e transforma, influenciando e integrando todos os aspetos da pessoa e as suas relações fundamentais”, declarou.
O que é necessário fazer agora para garantir que o cuidado da nossa casa comum e a escuta do clamor da terra e dos pobres não pareçam meras tendências passageiras ou, pior ainda, sejam vistos e sentidos como questões divisórias?”
A sessão de abertura reuniu mais de 400 líderes religiosos, especialistas em clima, representantes da sociedade civil e instituições internacionais.
O Papa convidou todos a passar da “recolha de dados para o cuidado” e do “discurso ambiental para uma conversão ecológica”, que transforme os estilos de vida pessoais e comunitários.
“Não podemos amar Deus, a quem não vemos, enquanto desprezamos as suas criaturas, nem podemos chamar-nos discípulos de Jesus Cristo sem participar na sua visão da criação e no seu cuidado por tudo o que é frágil e ferido”, advertiu.
Leão XIV recordou a figura de São Francisco de Assis, que inspirou o seu predecessor, apontando à “conversão” em quatro relações: “Com Deus, com os outros, com a natureza e connosco mesmos”.
“Renovo o meu forte apelo à unidade em torno da ecologia integral e à paz! É encorajador ver a variedade de organizações representadas nesta conferência, bem como a vasta gama de organizações que aderiram ao Movimento ‘Laudato Si’ e à Plataforma de Ação”, acrescentou.
Gostaria de concluir com uma pergunta que diz respeito a cada um de nós. Deus perguntar-nos-á se cultivamos e cuidamos do mundo que Ele criou, para o bem de todos e das gerações futuras, e se cuidámos dos nossos irmãos e irmãs. Qual será a nossa resposta?”
A sessão contou com uma intervenção de Arnold Schwarzenegger, ator e ex-governador do Estado norte-americano da Califórnia, apontando à missão de “exterminar a poluição”.
“Juntos, podemos cumprir o nosso objetivo”, assinalou, evocando a dimensão das estruturas católicas nos cinco continentes.
O antigo governador evocou o trabalho de conciliação entre o crescimento económico e as leis ambientais, no Estado da Califórnia, como exemplo de sucesso nesta matéria.
Sublinhando que “as alterações climáticas matam muitas pessoas”, Schwarzenegger pediu uma maior aposta na comunicação sobre os efeitos da poluição sobre os seres humanos.
“Temos de falar ao coração, para que as pessoas entendam”, defendeu.
Também a ministra do Meio Ambiente do Brasil, Marina Silva, discursou perante a assembleia, emergência climática como “um dos maiores desafios que a humanidade enfrentou até hoje”.
A responsável elogiou o “notável impacto da pedagogia” das iniciativas nascidas da ‘Laudato Si’, lamentando que 10 anos depois do Acordo de Paris, os países desenvolvidos continuem a desrespeitar as metas estabelecidas.
“É incoerente dizermos que amamos o Criador e destruirmos a criação. A encíclica ‘Laudato si’ nos convoca a fazer essa integração”, indicou.
Marina Silva reforçou o convite do presidente Lula da Silva e da organização da COP30, para que o Papa possa visitar o Brasil por ocasião da próxima Cimeira do Clima da ONU.
“Estou convicta de que, dessa forma, Sua Santidade dará uma indispensável contribuição para a COP30 entre para a história como o grande mutirão [iniciativa coletiva] da implementação”, declarou.
A cerimónia de abertura encerra-se com um momento musical, uma reflexão sobre o ‘Cântico das Criaturas’ de São Francisco de Assis e um compromisso comum dos participantes, liderado por representantes das populações mais atingidas pelo impacto das alterações climáticas.
A conferência internacional ‘Raising Hope for Climate Justice’, promovida pelo Movimento ‘Laudato Si’ em colaboração com diversos parceiros eclesiais e institucionais, continua entre quinta e sexta-feira com sessões de trabalho, mesas-redondas e momentos de espiritualidade, congregando líderes religiosos, cientistas, representantes da sociedade civil e do mundo político.
OC
Igreja/Ambiente: Leão XIV sublinha «responsabilidade» do ser humano na proteção da natureza