Igreja/Ambiente: Mais de 50 anos de ensinamento «verde»

Encíclica de Francisco culmina percurso de reflexão sobre questões ecológicas

Cidade do Vaticano, 16 jun 2015 (Ecclesia) – A próxima encíclica do Papa Francisco, ‘Laudato Si’, sobre questões ecológicas, vai ser o documento pontifício mais importante dedicado a estas temáticas até hoje, culminando um percurso de reflexão com mais de 50 anos.

Bento XVI, predecessor do pontífice argentino, chegou a ser denominado como "o primeiro papa verde" por publicações como a ‘National Geographic’, mas já no início dos anos 70 do século XX o Beato Paulo VI (1897-1978) alertava para um "problema social de vastas dimensões”, na carta apostólica escrita para o 80º aniversário da publicação da ‘Rerum novarum’.

Em 1970, dirigindo-se à FAO, o Papa italiano falou da possibilidade duma “catástrofe ecológica sob o efeito da explosão da civilização industrial”.

A revista dos jesuítas italianos ‘La Civiltà Cattolica’ apresenta no seu último editorial (n. 3960/2015) aborda o crescimento deste magistério, recordando que entre 1970 e o início dos anos 90 do século passado aumentou a consciência das ameaças ao meio ambiente.

“São João Paulo II foi o primeiro papa a falar das consequências do crescimento industrial, das enormes concentrações urbanas e do notável aumento do consumo energético”, pode ler-se.

O Papa polaco abordou a questão na encíclica ‘Sollicitudo rei socialis’ (1987), afirmando que "é preciso levar em conta a natureza de cada ser e as ligações mútuas entre todos, num sistema ordenado, que é justamente o cosmos".

A Mensagem para o 23.º Dia Mundial da Paz (1 de janeiro de 1990) foi centrada no tema ‘Paz com Deus criador, paz com toda a Criação’.

"O gradual esgotamento da camada de ozono e o consequente 'efeito estufa' que este provoca já atingiram dimensões críticas”, alertava São João Paulo II (1920-2005), antecipando o debate internacional sobre aquecimento global e alterações climáticas.

Na sua carta encíclica ‘Centesimus annus’ (1991), o Papa polaco ligou a "questão ecológica", ao problema do consumismo e ao que definiu como "erro antropológico".

“[O homem] pensa que pode dispor arbitrariamente da terra, submetendo-a sem reservas à sua vontade, como se ela não possuísse uma forma própria e um destino anterior que Deus lhe deu”, observou.

A encíclica ‘Evangelium vitae’ (1995) recorda que, "em relação à natureza visível”, a humanidade está submetida “a leis, não só biológicas mas também morais”, pelo que a crise ecológica é entendida como reflexo de uma crise moral.

Já Bento XVI, Papa entre 2005 e 2013, deixou várias intervenções em favor de uma "economia verde" e do respeito pelo meio ambiente, promovendo um desenvolvimento sustentável.

Já na mensagem para o Dia da Paz 2007 falava especificamente do problema do "abastecimento energético", alertando para “uma corrida sem precedentes aos recursos disponíveis".

A água foi outra preocupação papal, sendo considerada "um direito inalienável" que não pode ser privatizado.

Foi sobretudo na encíclica ‘Caritas in veritate’ (2009) que Bento XVI condensa a reflexão sobre “proteção do ambiente, dos recursos e do clima”, a “monopolização dos recursos naturais” e a “exploração dos recursos não renováveis".

Bento XVI afirma que a degradação da natureza está estreitamente ligada à cultura que molda a convivência humana: quando a "ecologia humana" é respeitada dentro da sociedade, beneficia também a ecologia ambiental, dado que "respeitar o ambiente não significa considerar a natureza material ou animal mais importante do que o homem”.

O Papa alemão dedicou a sua mensagem para o Dia Mundial da Paz 2010 (1 de Janeiro) à defesa do ambiente, falando numa "crise ecológica" e apelando à comunidade internacional para que tome medidas que travem as alterações climáticas.

O Compêndio da Doutrina Social da Igreja apresenta uma série de números dedicados a este tema e no ponto 481 pode ler-se que “os atuais problemas ecológicos, de caráter planetário, apenas podem ser enfrentados eficazmente através de uma cooperação internacional”.

O compromisso “verde” da Santa Sé é particularmente visível no complexo foto voltaico que foi instalado em 2008 no telhado da sala de audiências Paulo VI, junto à Praça de São Pedro: cerca de 2 mil metros quadrados da cobertura foram substituídos por painéis solares.

OC

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Agência ECCLESIA

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