Conflito na República Centro Africana dura há quatro meses, quando o presidente foi deposto
Lisboa, 06 ago 2013 (Ecclesia) – O padre carmelita Aurelio Gazzera elogiou o encontro com representantes de diversas religiões e com a milícia islâmica Séléka em Bangui, a capital da República Centro Africana, promovido pelo arcebispo D. Dieudonné Nzapalainga.
Aurelio Gazzera, padre carmelita e diretor da Cáritas diocesana de Bouar, a cerca de 440 quilómetros noroeste da capital, considera que o encontro inter-religioso, com católicos, protestantes e muçulmanos, teve “uma grande importância”.
Numa entrevista à Fundação Ajuda à Igreja que Sofre, o religioso explicou que o aparecimento de “muçulmanos radicais” e consequentes “pilhagens, ataques contra igrejas e contra os cristãos” podia originar uma revolta generalizada, “sem distinção” contra todos os muçulmanos.
Esta reunião, em julho, resultou de um trabalho de continuidade, realizado antes do golpe de estado na República Centro Africana, que depôs o presidente em março, entre D. Dieudonné Nzapalainga, arcebispo de Bangui, o presidente da comunidade islâmica e o presidente da conferência de igrejas evangélicas.
O missionário é um dos sacerdotes encarregados de negociar com os rebeldes mas Aurelio Gazzera assinala que já negoceia com ele “desde o início”, sempre com a preocupação de defender a população.
O entrevistado revela que em Bozoum não existiram “muitas pilhagens” porque depois do golpe de Estado reuniu-se, também, “com alguns muçulmanos para negociar a maneira de evitar as pilhagens e a violência”.
Na prática as conversações com a milícia islâmica Séléka resultam porque encontram o melhor para os dois lados, um contacto que varia conforme a situação e os interlocutores.
“Por vezes, os rebeldes têm necessidades, como no tratamento às cáries tratadas no nosso consultório dentário, em Bozoum, e, às vezes, somos nós que vamos ter com eles para conseguir libertar alguém, para os convencer a parar com os tiros, as pilhagens, ou ainda para garantir o funcionamento dos serviços básicos como as escolas ou os hospitais”, explica o sacerdote.
Aurelio Gazzera acrescenta, ainda, que nestas negociações a milícia têm de perceber, sempre, que ele está ali pelo bem-estar e pelas necessidades da população: “implica que vá com coragem e firmeza porque não estou lá por causa de mim mas dos meus irmãos e irmãs”.
Segundo o padre italiano, as reações normalmente são “muito boas” e, como cristão que se apresenta sem armas mas com “a oração e a presença de Deus”, é uma oportunidade para eles refletirem e fazerem “algo de bom”.
Neste momento, não está “otimista” com o futuro porque passado quatro meses do golpe de Estado, a “ violência e as pilhagens não param” e há cada vez mais rebeldes armados sem um “programa de desenvolvimento nem de melhoria das condições de vida da população”.
Confia que aos poucos tudo na República Centro Africana “pode renascer” e essa esperança vem, por exemplo, das escolas-públicas que reabriram e já contam com mais de 1600 alunos.
AIS/CB