Membro da Comissão Pontifícia para a Proteção de Menores diz que responsáveis católicos devem agir com «mais energia e liberdade»
Lisboa, 14 fev 2023 (Ecclesia) – O padre Hans Zollner, membro da Comissão Pontifícia para a Proteção de Menores (Santa Sé), disse que a apresentação do relatório da Comissão Independente sobre abusos sexuais, em Portugal, foi um dia “triste” mas também de “esperança”.
“Isto não é o fim, vamos ouvir mais vozes das vítimas, mas é também um dia de esperança, paradoxalmente: elas tiveram voz, finalmente”, referiu, em declarações aos jornalistas, após a apresentação do documento, esta segunda-feira.
Para o colaborador do Papa, que acompanhou os trabalhos da Comissão Independente (CI) para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica em Portugal, este é o momento de reconhecer que “as vítimas que estiveram caladas ou foram silenciadas foram ouvidas”.
“Agora, a Igreja em Portugal e a sociedade sabem desta realidade, que é muito obscura e dolorosa, para as vítimas, as suas famílias, os seus amigos”, acrescentou.
O religioso jesuíta, especialista no campo da prevenção do abuso sexual, assumiu que este é um momento “importante” para os católicos em Portugal e no mundo, porque permite reconhecer que “muitas pessoas foram feridas por membros da Igreja”.
O futuro, apontou, passa por assumir o compromisso de proteger as vítimas.
A partir de agora, a Igreja pode, com muito mais energia e liberdade, aceitar o que aconteceu no passado e, esperemos, reconhecer a dor dos que foram feridos”.
O padre Hans Zollner apela a um compromisso “mais consistente e mais coerente” na proteção de menores, como parte da “missão da Igreja”.
O responsável recordou que há comissões diocesanas em todo o país, assumindo a necessidade de uma resposta mais “estruturada” para as vítimas, que podem passar pela implementação de “centros de escutas”.
A CI validou um total 512 testemunhos de abuso sexual na Igreja Católica nas últimas décadas, com um “pico” entre as décadas de 60 e 90 do século passado.
O membro da Comissão Pontifícia para a Proteção de Menores disse que é necessário olhar para as estruturas da Igreja e para a resposta, em caso de denúncias, “agindo e reagindo de acordo com as normas”.
Entre as recomendações da CI está a oferta de “apoio psicológico continuado às vítimas do passado, atuais e futuras”, como responsabilidade da Igreja e em articulação com o Serviço Nacional de Saúde.
“Isto precisa de ser discutido e decidido, dentro do contexto português. A Igreja pode fazer muito, mas também penso que é preciso levar em conta a realidade da sociedade, como um todo”, afirma o padre Hans Zollner.
Para o especialista, também a sociedade tem de olhar para o que a Igreja está a fazer, “porque há muitas outras instituições que precisam de enfrentar esta realidade e que devem ser colocadas neste quadro”.
A CI propõe a “realização de um estudo nacional sobre abusos sexuais de crianças nos seus vários espaços de socialização”, em Portugal.
OC