Francisco assume atrasos no julgamento de casos e admite criação de tribunais continentais
Octávio Carmo, enviado da Agência ECLESIA no voo papal
Roma, 13 mai 2017 (Ecclesia) – O Papa Francisco voltou hoje a mostrar a sua determinação de combater os casos de abusos sexuais da Igreja, afirmando que não perdoa estes crimes a nenhum sacerdote, após este ter esgotado os recursos do processo canónico.
“Nunca assinei um indulto”, disse aos jornalistas, no voo de regresso a Roma após uma visita de dois dias a Portugal.
A resposta surgiu após o Papa ter sido questionado sobre a demissão da irlandesa Marie Collins da Comissão Pontifícia para a Tutela de Menores (Santa Sé).
A leiga católica, que foi abusada na sua juventude, manifestou na carta de demissão, dirigida ao Papa Francisco, a sua “frustração pela falta de cooperação com a Comissão por parte de outros departamentos da Cúria Romana”.
O pontífice disse ter conversado com Collins, que lhe explicou “bem as coisas”.
“Falei como ela, é uma grande mulher, e vai continuar a trabalhar na formação dos sacerdotes, neste ponto”, adiantou.
Segundo o Papa, a leiga irlandesa “fez acusações e tem alguma razão, porque há muitos casos atrasados – porque se amontoavam ali”.
Francisco apontou para um total de 2 mil processos à espera de decisão.
“Neste período, foi preciso fazer a legislação, o que deviam fazer os bispos diocesanos, hoje em quase todas as dioceses há um protocolo para estes casos, é um grande avanço”, acrescentou.
O Papa lamentou que exista “pouca gente” capaz de julgar estas situações, além de haver problemas de “protocolo” com casos enviados por bispos para o Vaticano.
“Pensa-se numa ajuda continental, com pré-tribunais ou tribunais continentais”, adiantou.
Quando um sacerdote é demitido do estado clerical pode recorrer da decisão, mas agora o recurso é estudado por “outro tribunal”.
Em janeiro de 2015, Francisco nomeou o bispo maltês D. Charles J. Scicluna, antigo promotor de Justiça da Congregação para a Doutrina da Fé, para presidir à estrutura que examina recursos dos julgamentos de casos de abusos sexuais.
“Quem recorre, tem direito a ter um defensor. Se se aprovar a primeira sentença, acaba o caso”, referiu hoje o Papa.
Sem mais instâncias de recurso, ao condenado resta escrever uma carta de clemência ao Papa, algo a que o próprio nunca acedeu.
OC