Igreja/Abusos: «Se tivéssemos enforcado 100 padres abusadores todos ficavam felizes, mas não teríamos resolvido o problema» – Papa Francisco

Questão foi retomada numa audiência com 800 religiosas da União Internacional das Superiores-gerais 

Foto Vatican Media

Cidade do Vaticano, 10 mai 2019 (Ecclesia) – O Papa salientou hoje no Vaticano a importância da Igreja Católica seguir um caminho consolidado e ponderado, no que diz respeito à problemática dos abusos, evitando condenações ou julgamentos sumários.

“Se tivéssemos enforcado publicamente 100 sacerdotes abusadores na Praça de São Pedro, todas as pessoas ficavam felizes, mas não teríamos resolvido o problema. Na vida a resolução de problemas implica sempre um processo”, sublinhou Francisco, numa audiência a mais de 800 religiosas da União Internacional das Superiores-gerais.

Num encontro em que colocou de lado o discurso que tinha preparado – “prefiro ter um diálogo convosco”, sublinhou – o Papa argentino reforçou que “o problema dos abusos na Igreja não se resolve de um dia para o outro” e destacou a “tomada de consciência” que este drama tem provocado.

“Perante tamanha vergonha, mas bendita vergonha, porque a vergonha é uma graça de Deus, estamos a caminhar para diante, passo a passo, para resolver este problema”, acrescentou Francisco.

Nos últimos dias, o Papa determinou que todas as dioceses católicas no mundo deverão criar até 2020 estruturas para receber e lidar com denúncias de eventuais casos de abusos sexuais.

Sobre os abusos verificados no seio das congregações religiosas, Francisco disse tratar-se de “um problema sério, grave”, que envolve “não só o abuso sexual, mas o abusos de poder e da consciência”.

O Papa lembrou também a necessidade de salvaguardar a dignidade do serviço que é feito pelas irmãs nas congregações.

“Por favor, serviço sim, servidão não. Ninguém se torna religiosa para ser doméstica de um sacerdote. Mas aqui demos ajudar-nos mutuamente”, assinalou.

Nesta sexta-feira, Francisco voltou também a abordar o tema do diaconado feminino, durante a audiência com a União Internacional das Superiores-gerais.

Recorde-se que o Papa tinha instituído uma comissão para estudar esta matéria, a pedido das religiosas, mas os resultados até agora foram inconclusivos.

Francisco referiu que “não se pode fazer um decreto sacramental sem um fundamento histórico e teológico”.

“Os resultados não são os melhores, mas demos passos em frente”, acrescentou o Papa argentino, que sobre o trabalho das mulheres na Igreja Católica alertou para o erro de considerar esse contributo como meramente “funcional”.

“A Igreja é feminina, é mulher. Não é uma imagem, é a realidade, é a esposa de Jesus, e devemos levar para diante a teologia da mulher”, completou.

Numa iniciativa que percorreu também outros desafios que tocam a Igreja, ou onde ela está envolvida, como o próximo Sínodo da Amazónia, a questão do tráfico humano, a falta de vocações para a vida consagrada, Francisco pediu às religiosas que nunca percam a “paixão pela evangelização” nem tenham medo de entregar a vida a Deus e aos outros.

“Há muitas pessoas que precisam de vocês e esperam algo de vocês; que precisam do vosso sorriso amigo, que dá confiança; que precisam das vossas mãos, que sustentam os outros na sua caminhada; que precisam da vossa palavra, que semeia esperança nos corações; que precisam do vosso amor, que é como o de Jesus, cura as feridas profundas causadas pela solidão, pela rejeição e exclusão”, considerou.

JCP

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Agência ECCLESIA

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