Padre Pedro Fernandes espera que momento de crise seja «oportunidade de reforma»
Lisboa, 24 fev 2023 (Ecclesia) – O responsável pela província portuguesa dos Missionários do Espírito Santo (Espiritanos) publicou hoje um pedido de perdão às vítimas de abusos sexuais, na sequência do relatório da Comissão Independente divulgado a 13 de fevereiro.
“Peço perdão àqueles que, dentro da nossa casa, viram traídas as suas expetativas de vida e crescimento, pela violência do abuso sexual que sofreram e, também, pela violência de outros abusos, como o abuso espiritual, o abuso de autoridade, o abuso da instituição esmagando pessoas ou da doutrina férrea esmagando a realidade, em vez de a libertar”, escreve o padre Pedro Fernandes.
O texto, enviado à Agência ECCLESIA, defende que “só a reforma poderá conduzir ao perdão” e lamenta que a autoridade eclesial “não tenha, em muitos casos, tomado as medidas necessárias para abordar o problema de modo correto – ao contrário, abordou-o muitas vezes de modo incrivelmente incorreto”.
O relatório sobre abusos sexuais na Igreja Católica em Portugal, pedido pela Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), validou um total 512 testemunhos de abuso nas últimas décadas, com um “pico” entre as décadas de 60 e 90 do século passado.
“O que nos é apresentado é doloroso em extremo: magoa-nos a dor das vítimas, envergonha-nos a identidade dos agressores, desafia-nos a complexidade de toda a situação”, assume o provincial dos Espiritanos em Portugal.
O padre Pedro Fernandes considera que Comissão Independente para o estudo de abusos sexuais sobre as crianças na Igreja Católica Portuguesa, que iniciou funções em janeiro de 2022, “desenvolveu um notável trabalho pedido e viabilizado” pela CEP.
É verdade que o problema não se confina aos limites das instituições da Igreja Católica e é também como cidadãos que nos agitamos, pela gravidade e alcance destas situações, em tantas instituições sociais. Mas, como cristãos, é evidente que nos sentimos especialmente implicados e mobilizados, no que se refere à existência destes abusos no seio das nossas instituições católicas”.
O religioso destaca a “exigência” de reconhecer a verdade, abordando três casos ligados à Congregação do Espírito Santo “num passado relativamente distante”.
“Dói-nos que não tenhamos sido capazes de evitar esse horror, nem capazes de criar ambiente para que essas (e outras?) pessoas tivessem sido escutadas mais cedo, acolhidas e, tanto quanto fosse possível, curadas”, assume o superior provincial.
Resta-nos o perdão, apenas possível de acolher se assumirmos os nomes da nossa verdade e reconhecermos a nossa extrema necessidade de reforma e libertação – ainda que o mais importante não seja essa necessidade interna, mas a cura e o reconhecimento devidos às vítimas”.
O padre Pedro Fernandes fala numa “obrigação de penitência e libertação”, que leva a reconhecer “fragilidades internas” e a rever “formas caducas, que não apenas precisam de retificações periféricas, mas de uma verdadeira reforma estrutural”.
“Impõe-se que a crise por que passamos seja a oportunidade da reforma de que precisamos. A dor que sentimos na crise fala-nos precisamente dos nossos apegos coletivos a padrões de funcionamento e a modelos de autocompreensão que precisam de revisão”, aponta.
OC