Grupo Vita apresentou estudos sobre catequistas, professores de EMRC e vivência do celibato
Lisboa, 21 jan 2025 (Ecclesia) – O Grupo Vita, organismo de acompanhamento das situações de violência sexual na Igreja Católica em Portugal, destacou hoje a “adesão crescente” por parte das estruturas católicas a ações de formação e prevenção de abusos de menores.
“O Grupo Vita tem priorizado as ações de capacitação das diversas estruturas eclesiásticas, verificando-se uma adesão crescente por parte destas, especialmente nos últimos seis meses – o que poderá traduzir uma maior consciencialização e reconhecimento da necessidade formativa, enquanto motor agente de mudança”, assinala o documento, enviado à Agência ECCLESIA.
O organismo refere que tem vindo a realizar “diversas ações de formação e capacitação que abrangeram um universo de cerca de 2700 pessoas, um aumento de cerca de 59% em seis meses”.
As iniciativas sublinham a importância da “tolerância zero” e da criação de canais de denúncia, tendo sido já solicitadas por 50% das dioceses portuguesas.
“Acreditamos que nos próximos meses chegaremos aos 100%”, disse, na conferência de imprensa de apresentação do relatório, Rute Agulhas, coordenadora do grupo Vita.
A responsável começou por agradecer à Conferência Episcopal, sublinhando que “tem permitido sempre tomar as nossas decisões de forma autónoma e de forma independente”.
“Sentimos que neste ano e meio tem havido um caminho de confiança”, acrescentou, referindo-se ainda a outras instituições da Igreja Católica em Portugal.
No terceiro relatório publicado em 20 meses de atividade, divulgado em Lisboa, o organismo adianta conclusões de trabalhos científicos desenvolvidos no letivo 2023/2024.
‘A prevenção do abuso sexual numa amostra de catequistas: avaliação de necessidades e crenças sobre a problemática’, de Inês Cordeiro (ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa), mostra que “os catequistas valorizam a formação nesta área para serem capazes de recorrer a materiais ou programas de prevenção, mas consideram que a responsabilidade da prevenção é, sobretudo, das famílias e que o tempo na catequese é limitado para abordar o tema, reforçando a importância de incluí-lo nas ações de formação e prevenção”.
“Os participantes referem que os programas de prevenção devem ser adequados ao contexto catequético e aos catecismos, mas quando são questionados acerca dos temas específicos da catequese que poderiam ser articulados com os temas da prevenção primária do abuso sexual (corpo e privacidade; toques adequados e não adequados; segredos seguros e não seguros; comunicação assertiva: dizer sim, dizer não; emoções; pedir ajuda), não conseguem fazê-lo”, acrescenta o relatório, apresentado hoje em Lisboa, numa conferência de imprensa.
Um segundo estudo, da autoria de Beatriz Pires (ISCTE), abordou “Crenças sobre o abuso sexual infantil e a intenção de prevenção do abuso sexual em professores de Educação Moral Religiosa e Católica em Portugal.
Participaram neste estudo 784 professores, dos quais 55,3% referiu ter conhecimentos sobre o abuso sexual.
“Os resultados indicam uma associação negativa entre as crenças que legitimam o abuso sexual infantil e a intenção de adotar medidas preventivas, e uma associação positiva entre as crenças relacionadas com a resolução de situações sexualmente abusivas e a intenção de aplicação de materiais e programas de prevenção do abuso sexual infantil”, pode ler-se na síntese apresentada à imprensa.
O estudo sublinha “a importância das ações formativas que procurem capacitar diferentes profissionais sobre a problemática do abuso sexual, destacando os benefícios do envolvimento dos professores neste processo”.
Em entrevista à Agência ECCLESIA e Renascença, Rute Agulhas, coordenadora do Grupo Vita, destacou que catequistas e professores de EMRC “desde o início mostraram uma disponibilidade muito grande”, através do Secretariado Nacional da Educação Cristã (SNEC).
“Diria que os catequistas e os professores de EMRC são um grupo particularmente sensível, motivado e a querer perceber como é que podem fazer”, declarou. Rute Agulhas lamentou a persistência de “mitos” e ideias “erradas” sobre a prevenção, que alguns ligam “à ideologia de género” ou a crença de que se vai “falar de sexo para as crianças e se vai falar com uma linguagem sexualmente explícita”. “Falar de prevenção é falar da promoção de comportamentos saudáveis, de relações saudáveis com os outros”, indica, realçando a colaboração com responsáveis católicos na criação de materiais para este campo. |
Um terceiro estudo visou avaliar as “Vivências do celibato no contexto da Igreja Católica em Portugal”, a partir de 25 respostas recolhidas por Mariana Guerreiro (ISCTE).
“O compromisso com o celibato, longe de ser um desafio isolado, emerge neste estudo como uma prática vivida com intensidade, adaptabilidade e resiliência, destacando-se como uma dimensão central da vida religiosa contemporânea”, realça a autora.
Além destes trabalhos académicos, estão a decorrer dois estudos de investigação, associados à construção de dois programas de prevenção primária do abuso sexual infantil – Programa Girassol: Prevenção primária do abuso sexual infantil, no contexto da Igreja Católica em Portugal, para crianças dos 6 aos 9 anos; e Lighthouse Game: Jogo digital para prevenção primária do abuso sexual infantil, no contexto da Igreja Católica em Portugal, para crianças dos 10 aos 14 anos.
“É importante trabalhar com as crianças, diretamente”, sublinhou Rute Agulhas.
OC