Igreja/Abusos: «Há um antes e um depois do relatório», diz presidente da APAV

João Lázaro fala em «oportunidade histórica» para responder às vítimas

Foto: APAV/Atelier Obscura

 

Lisboa, 21 fev 2023 (Ecclesia) – O presidente da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) considera que o relatório final da Comissão Independente (CI) para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica em Portugal é uma “oportunidade histórica”.

“Há um antes e um depois do relatório”, pedido pela própria Igreja e divulgado a 13 de fevereiro, sublinha João Lázaro, em declarações à Agência ECCLESIA.

O responsável destacou a “independência, o rigor e seriedade” da CI, que em 2022 recebeu o prémio da APAV

A “voz” das vítimas pode dar início a um novo processo, em contraste com uma “cultura de silêncio e de abuso”.

A CI validou um total 512 testemunhos de abuso sexual na Igreja Católica nas últimas décadas, com um “pico” entre as décadas de 60 e 90 do século passado.

O texto faz recomendações à Igreja e também à sociedade portuguesa, sugerindo que a prescrição dos crimes de abuso sexual aumente até aos 30 anos da vítima e propondo a realização de um “estudo nacional sobre abusos sexuais de crianças nos seus vários espaços de socialização”.

“Este risco é inato a determinadas atividades nas instituições”, alerta o presidente da APAV, que pede “uma política de vigilância, de prevenção”.

João Lázaro sustenta que é necessário “honrar esta oportunidade histórica”, desejando a continuidade do estudo e do acompanhamento destas situações.

“É uma oportunidade de se transitar de uma cultura de opacidade, de cumplicidade, de ocultação e de impunidade, para uma cultura de transparência”, apela.

Foto Miguel Rato/Renascença, João Lázaro, presidente da APAV

O responsável acredita que as Comissões Diocesanas podem ser “agentes” de promoção do princípio de “tolerância zero”, assumido pela hierarquia católica, em colaboração com a sociedade civil.

A Igreja Católica, acrescenta, deveria ter desempenhado um papel “exemplar” no combate aos abusos sexuais de crianças, esperando ver “ações que possam ser resposta aos problemas elencados” pela CI.

A APAV disponibiliza há seis anos a rede CARE, que nasceu do projeto com o mesmo nome, com o objetivo apoiar crianças e jovens vítimas de violência sexual de forma especializada, bem como as suas famílias e amigos.

João Lázaro assume que, na sociedade portuguesa, deve haver uma “cooperação vigilante”, em que todos cumpram o seu papel.

A Conferência Episcopal Portuguesa vai reunir-se a 3 de março, em Assembleia Plenária extraordinária, para debater os dados do relatório e decidir sobre medidas concretas a tomar.

HM/OC

Portugal: APAV distinguiu Comissão Independente para o Estudo de Abusos Sexuais

 

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Agência ECCLESIA

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