Igreja/Abusos: Divulgação de relatório exige compromisso «realista e corajoso» – Pedro Gil

Diretor de comunicação do Opus Dei afirma que «as palavras já não vão bastar» para recuperar a confiança das pessoas neste momento

Foto: Lusa

Lisboa, 17 fev 2023 (Ecclesia) – Pedro Gil, diretor do Gabinete de Comunicação do Opus Dei, afirmou que os dados do relatório sobre os abusos sexuais na Igreja Católica, em Portugal, exigem um compromisso “realista e corajoso” na resposta ao problema.

“É sempre valioso pedir desculpa e pedir perdão, mas quando isso não vai acompanhado de nenhum facto pode ser contraproducente e soar a cinismo. É preciso agora ter um grande cuidado de ser realista e corajoso”, referiu, em entrevista à Agência ECCLESIA.

A Comissão Independente (CI) para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica, criada pela Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), validou um total 512 testemunhos, num total de 564 recebidos, relativos a casos ocorridos entre 1950 e 2022, com um “pico” entre as décadas de 60 e 90 do século passado.

Pedro Gil assinala que muitos dados do relatório da CI “são indícios, são pistas, não é uma informação completa”, pelo que cada diocese e cada instituição, “tem, agora, de olhar com muita preocupação para esses indícios e ir até onde puder, “no sentido de fazer a clarificação da verdade”.

Esse esforço, acrescente, exige um espírito de grande coragem, “sem ter medo”, porque “para recuperar a confiança das pessoas, as palavras já não vão bastar”.

Para o diretor do Gabinete de Comunicação do Opus Dei, o primeiro impacto do relatório foi um “emotivo”, dado que muitos detalhes dos casos “são impressionantes, faz muito pensar no sofrimento que as pessoas passaram”.

Segundo Pedro Gil, a “única maneira” de enquadrar “seriamente o tipo de reação” é “captar este sofrimento até ao osso, até à dureza do que o sofrimento significa”, e “não ligar a questões acessórias, ou menores”.

Do ponto de vista da Igreja, para crentes, acho que é preciso estar num momento de grande unidade com os pastores, sabendo que eles também estão em grande sofrimento por causa daquilo que estão a experimentar e a conhecer”.

Já o jornalista Filipe d’Avillez assinala que “este é um problema transversal” e, da mesma forma que a Igreja Católica tem “acordado para a urgência desta questão”, que não é encarada como há 50 anos, a sociedade tem feito o mesmo.

“As comunidades têm de estar mais atentas a este problema, este não é só um problema dos padres, é um problema das comunidades. Um ponto que me causou alguma surpresa e bastante aflição que foi ver que a maior parte das vítimas são de famílias numerosas e não há uma conclusão que se tire dai”, desenvolveu o especialista na temática religiosa.

O jornalista considera também que a lista com nomes de padres que “ainda estarão no ativo”, e vai ser entregue à CEP, “tem de ser analisada com muito cuidado”, observando que a Igreja “tem de avaliar primeiro se essas denúncias são credíveis”.

“Não há uma solução igual para todos, simplesmente pegar na lista e riscar esses padres e mandar embora, não é por aí que se chega à verdade”, acrescentou Filipe d’Avillez.

A Conferência Episcopal Portuguesa vai reunir-se a 3 de março, em Assembleia Plenária extraordinária, para debater os dados do relatório e decidir sobre medidas concretas a tomar.

Em cada sexta-feira, no Programa ECCLESIA (RTP2), é feita uma análise, um comentário, à liturgia dominical seguinte, as leituras da Bíblia que vão ser ouvidas nas comunidades católicas.

Filipe d’Avillez considera “providencial” que se trate, no próximo domingo, da passagem do Evangelho (Mateus 5, 38-48), onde Jesus diz o que se deve “fazer com os inimigos” e qual a atitude “quando levam a tribunal, quando pedem algo que é próprio, porque “é fácil a Igreja perante este tsunami de acusações, e possivelmente processos legais, adotar uma atitude defensiva”.

“Tocou-me muito a maioria dos testemunhos apresentados no fim não pediam indemnizações. O que querem é um pedido de desculpas, já foram feitos muitos, mas queriam sobretudo apoio psicológico. Acho que esse é o grande desafio que a Igreja pode vir a enfrentar, é criar estruturas, e financiá-las, que prestem apoio psicológico de qualidade às pessoas que estão a sofrer com isto”, concluiu.

PR/CB/OC

 

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Agência ECCLESIA

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