Bispo reuniu-se com os padres, que ficam «impedidos do exercício público do ministério»
Angra do Heroísmo, Açores, 08 mar 2023 (Ecclesia) – A Diocese de Angra anunciou hoje a abertura da uma investigação prévia aos dois sacerdotes identificados pela Comissão Independente (CI) para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica, afastando-os cautelarmente do ministério.
“O bispo diocesano já falou com ambos e, em conjunto, acordaram que os sacerdotes em causa ficarão impedidos do exercício público do ministério até ao final do processo de investigação prévia, que já foi iniciado na Diocese e de acordo com as normas canónicas. Igualmente seguirá a participação ao Ministério Público”, refere um comunicado divulgado pelo portal diocesano ‘Igreja Açores’ e enviado à Agência ECCLESIA.
O processo de investigação prévia, determinado pelas normas em vigor, já foi iniciado na diocese e “seguirá participação ao Ministério Publico”.
Os dois sacerdotes visados, acrescenta a nota, “ficarão impedidos do exercício público do ministério até ao final do processo de investigação prévia”.
“Esta decisão não é uma assunção de culpa dos próprios nem uma condenação por parte do bispo diocesano. Trata-se de seguir aquilo que o Papa Francisco tem recomendado como norma e prática da Igreja em matéria de abusos, sobretudo depois da publicação do vade-mécum sobre procedimentos para enfrentar casos de abuso de menores na Igreja” justifica o comunicado da diocese.
O esclarecimento surge na sequência da entrega de uma lista, pela CI, aos responsáveis católicos de Portugal, no último dia 3 de março, com nomes de alegados abusadores, referidos nos testemunhos recolhidos pelo relatório final desta comissão, apresentado publicamente no dia 13 de fevereiro.
Da lista entregue ao bispo diocesano de Angra constavam o nome de um sacerdote de São Miguel e outro da ilha Terceira.
“Depois da vergonha e do escândalo que a revelação da existência de abusos provocou junto da sociedade, em geral, e dos cristãos em particular, é tempo de ação”, assume a diocese.
De acordo com o relatório da CI, foram recebidas denúncias relativas a oito casos de alegados abusos ocorridos em sete concelhos da Região Autónoma dos Açores, cometidos entre 1973 e 2004, por pessoas diferentes, quatro delas- três sacerdotes e um leigo – já falecidas.
“A todos os que se sentem feridos, confusos ou perdidos, apelamos a que confiem que tudo se fará para implementar medidas punitivas onde necessário, mas também preventivas e formativas, que contribuam para devolver a confiança e a esperança a todos os cristãos. Igualmente se apela a todos os padres que sofrem pelas falhas de outros, para que continuem a ser presença do Bom Mestre que dá a vida pelos seus, junto das suas comunidades”, pede a Diocese de Angra.
A Igreja Católica nos Açores assume a intenção de ajudar as vítimas, “garantindo-lhes o direito à justiça e ao cuidado, sem enjeitar meios técnicos, humanos e financeiros para a reparação do mal infligido”.
A Diocese de Angra tudo fará para que os abusos não tenham mais lugar. A Igreja não pode sequer tentar esconder a tragédia dos abusos. Agiremos com tolerância zero para com os abusadores e disponibilizamo-nos para acolher, escutar e reparar a vida de todos os que foram abusados, sejam os que já denunciaram seja os que no seu silêncio e vergonha continuam a sofrer sozinhos”.
Seguindo as determinações da última assembleia plenária extraordinária da Conferência Episcopal Portuguesa, a Comissão Diocesana para a Proteção de Menores – uma das primeiras a serem constituídas no país, pelo então bispo de Angra, D. João Lavrador – “deixou de contar com a presença de clérigos”.
“Esta comissão, agora renovada, composta apenas por leigos, especialistas em várias áreas sociais, terapêuticas e jurídicas continuará a fazer o seu trabalho de forma ainda mais empenhada, garantindo o sigilo que situações desta delicadeza exigem”, precisa a nota de imprensa.
Após a apresentação do relatório pela CI, esta comissão diocesana recebeu uma nova denúncia, que envolve um sacerdote de São Miguel já falecido.
Um membro do organismo “encontrou-se com a vítima e disponibilizou o apoio da diocese para prosseguir este caminho de recuperação”.
A diocese açoriana dirige-se aos “que ainda não tiveram coragem para denunciar ou preferiram não dar voz ao seu silêncio”.
O comunicado conclui-se com a manifestação do “empenho na definição de políticas robustas, bem como a cooperação com todas as entidades que trabalham no terreno na luta contra os abusos de menores e pessoas vulneráveis, de forma a erradicar este problema sistémico das sociedades”.
O Vaticano disponibiliza desde 2020 um “vade-mécum” para ajudar os bispos e responsáveis de institutos religiosos no tratamento de denúncias de abusos sexuais de menores.
OC
Especial: 15 pontos para entender como a Igreja trata casos de abusos sexuais